O sono é a base da nossa saúde social

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Muita gente pensa no sono apenas como combustível para energia, foco ou recuperação. Mas a ciência mostra que ele é a base de algo ainda mais importante: nossa capacidade de viver em sociedade. Quando você dorme mal, não é só seu humor que muda. Suas relações, decisões e até a maneira como você enxerga o mundo são afetadas, às vezes de forma sutil, outras de modo devastador.

Irritabilidade e mau humor? Só o começo

Já sabemos que uma noite mal dormida deixa qualquer um mais irritado, impaciente e negativo. Mas o estudo de Eti Ben Simon, Matthew Walker e colaboradores revelou que o impacto vai muito além. A perda de sono amplifica a reatividade emocional e diminui a capacidade de regular emoções, tornando a amígdala cerebral (nosso alarme emocional) até 60% mais reativa a estímulos negativos. E não precisa ser uma noite virada: dormir pouco ou com má qualidade já faz esse efeito. O resultado é que o cérebro perde a objetividade, enxerga ameaça onde não há e reduz o bom humor muito mais do que aumenta o mau humor.

O que é pouco sono?

O estudo mostra que, na média, menos de 7 horas já é suficiente para que esses efeitos negativos apareçam. Ou seja, para a grande maioria, dormir 6 horas pode não ser "ok". O ideal, comprovado por estudos de diferentes grupos, é priorizar de 7 a 9 horas por noite.

O déficit de sono não afeta apenas quem dormiu mal, mas também as pessoas ao redor. O paper mostra que o mau humor e a sensação de solidão podem ser “contagiantes”. Pessoas descansadas que convivem com alguém privado de sono tendem a se sentir mais solitárias e menos dispostas a interagir. O resultado é isolamento social, menos cooperação e até prejuízo em relações de trabalho e familiares. Esse efeito viral já foi medido em estudos de laboratório: só de ver um vídeo de alguém que dormiu pouco, voluntários relatam maior desejo de se afastar e se sentem mais sozinhos.

Decisões ruins, ética frágil e cooperação em risco

No ambiente profissional, a privação de sono está associada a mais conflitos, menos disposição para ajudar colegas, queda de liderança e até a comportamentos antiéticos!! O julgamento fica comprometido: pessoas cansadas são mais suscetíveis à pressão social, avaliam riscos e recompensas de forma distorcida e têm até quatro vezes mais chance de assinar uma confissão falsa (!!). A qualidade das decisões cai, a impulsividade sobe, e escolhas alimentares ruins e comportamentos de risco se tornam mais frequentes. Não por acaso, distúrbios de sono aumentam o risco de depressão, ansiedade, suicídio e dependência química. Nos adolescentes, o paper mostra que o impacto é igual ou até maior.

Uma noite ruim já deixa marcas. Mas o que dizer do efeito crônico, acumulado ao longo de semanas, meses ou anos? O estudo levanta a hipótese de que a “dívida de sono” moderna não impacta apenas a saúde mental do indivíduo, mas pode comprometer o próprio tecido social: menos empatia, menos cooperação, mais isolamento e menos capacidade de construir laços. Algo que impacta diretamente a forma como evoluímos como sociedade: pela cooperação

Dormir bem é um superpoder

Dormir bem não é só questão de disposição. É um pilar do equilíbrio emocional, da clareza mental, da ética, da cooperação e da saúde coletiva. Se queremos viver mais e melhor, como indivíduos e sociedade, valorizar o sono é inegociável. O sono é a base sobre a qual se constrói a capacidade de ajudar, confiar, liderar e evoluir em grupo. Quem já teve uma ótima noite de sono sabe: dormir é um superpoder. Se você ainda não viu, vale assistir a palestra do Matt Walker no TED, que já foi vista por mais de 24 milhões de pessoas. Quantas horas você tem dormido por dia?

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