Qual o segredo do engajamento?

Muitas vezes sabemos o que devemos fazer, mas mesmo assim não fazemos. Por quê?

Bom dia. Depois da final de Roland Garros, fica evidente como um único ponto pode separar a sensação de vitória da derrota. Foram quase 5h30 de jogo e, no fim, o abraço apertado mostra que o que realmente fica não é o placar. É o caminho.

"A jornada é a recompensa." - Steve Jobs

🔎 RESUMO DA EDIÇÃO DE HOJE (TL;DR)

💪 Como ter vontade de fazer o que se deve fazer? A diferença entre saber e fazer é um abismo real. Viktor Frankl e Stephen Covey ajudam a construir pontes com propósito, missão pessoal e proatividade aplicada.

🔥 O fracasso como alicerce. Einstein, Curie e Faraday tropeçaram muito antes de brilhar. A mentalidade de crescimento mostra como erros moldam a evolução e por que desistir cedo demais pode ser o maior erro.

🧠 Rejuvenescimento celular sem pluripotência. Um novo estudo com participação brasileira identificou o SB000, um gene que reverte a idade de células da pele sem alterar sua identidade. A descoberta usa um relógio transcriptômico de precisão.

💡 Notícias da semana. Anvisa aprova tirzepatida (Mounjaro) para obesidade no Brasil. Apple apresenta WatchOS 26 com IA e o novo assistente Workout Buddy. Rony Meisler investe na Norte Media, que lançou a Guday, marca de creatina em gummy. Juvena e Lilly fecham acordo de até US$ 650 milhões em terapias musculares baseadas em IA. Testes de proteômica ganham força como nova métrica de idade biológica.

📚 Vale Saber. O modelo mental de Richard Feynman mostra como uma única ideia bem compreendida — como a hipótese atômica — pode servir de base para reconstruir todo o conhecimento. Com um pouco de imaginação e pensamento, é possível ir muito longe.

PROPÓSITO

Como ter vontade de fazer o que se deve fazer?

Não é nenhum segredo que um dos aspectos fundamentais para buscarmos uma vida mais longa e saudável é a transformação dos nossos hábitos — fazer o que é certo e deixar de fazer o que é errado. O problema é que muitas vezes sabemos o que fazer, mas mesmo assim não fazemos. Isso não é exclusivo da nossa geração, o apóstolo Paulo em sua carta aos Romanos (7:19-20) fala sobre essa mesma dificuldade “Quero fazer o bem, mas não o faço. Não quero fazer o que é errado, mas, ainda assim, o faço”

Mas e se pudéssemos reprogramar nosso software interno? E se existisse um caminho para alinhar nossas ações com nossas intenções mais profundas? Entra em cena a proatividade. Sim, é uma palavra desgastada no mundo corporativo, mas seu significado é profundo. É a atitude que nos torna arquitetos da própria vida, não meros inquilinos. É sobre responder conscientemente à vida, não apenas reagir a ela como um reflexo pavloviano.

Viktor Frankl, um psiquiatra judeu que esteve preso em um campo de concentração, narra em seu livro “Em Busca de um Sentido” a descoberta, nas palavras dele, “da última das liberdades humanas”. Para mim a ideia mais impactante do livro. 

Seus captores podiam controlar tudo ao seu redor, mas não podiam tocar em sua liberdade interior de escolher como responder. Entre o estímulo (o que acontece com nós) e a nossa resposta, há um espaço. Nesse espaço reside nosso poder de escolha, nossa humanidade essencial.

Ser proativo é habitar esse espaço conscientemente. É ser guiado por valores, não por circunstâncias. É o oposto de ser reativo, onde vamos vivendo passivamente na onda das expectativas alheias, dos caprichos do ambiente ou do nosso próprio humor.

Mas como cultivamos essa proatividade?

Comece refletindo profundamente seus valores fundamentais. O que realmente importa para você? Uma vida saudável? Crescimento da sua família? Independência financeira? Um lar de paz e alegria? Uma vida de fé? Escreva-os. Revise-os. Isso demora, mas é um trabalho essencial. Muitos autores escreveram sobre isso e chamam esse documento de Missão Pessoal ou Constituição Pessoal. Segue abaixo um exemplo real de uma “Constituição Pessoal” feita por um amigo de Stephen Covey e compartilhado por ele em um de seus livros:

“Tenha sucesso primeiro em casa. 

Busque e mereça ajuda divina. 

Nunca comprometa sua honestidade. 

Lembre-se das pessoas envolvidas. 

Ouça os dois lados antes de julgar. 

Busque o conselho dos outros. 

Defenda os ausentes. 

Seja sincero, mas decisivo. 

Desenvolva uma nova habilidade por ano. 

Planeje o trabalho de amanhã hoje.

Trabalhe enquanto espera. 

Mantenha uma atitude positiva. 

Tenha senso de humor. 

Seja organizado, tanto no pessoal quanto no trabalho. 

Não tema os erros—tema apenas a ausência de respostas criativas, construtivas e corretivas a esses erros. 

Facilite o sucesso dos seus subordinados. 

Ouça o dobro do que fala. 

Concentre todas as suas habilidades e esforços na tarefa atual, sem se preocupar com o próximo cargo ou promoção.”

O melhor conselho que conheço, uma vez que você tem a sua primeira versão, é ler a sua missão todo dia e planejar sua semana pensando nas ações que você precisa realizar para estar em consonância com a sua missão.  

Pense no valor de "viver mais e melhor" que focamos por aqui. Parece um valor óbvio, mas quantos de nós realmente o praticamos? Se esse valor ressoa com você, não basta apenas assentir com a cabeça. Transforme-o em um plano de batalha. Que hábitos concretos sustentam esse valor? Sono de qualidade? Nutrição consciente? Exercício regular? Menos álcool? Liste-os. Planeje-os. Mais importante: comprometa-se com eles.

É um processo iterativo, não um interruptor que você liga. Não espere perfeição instantânea. Como um músculo, a proatividade fortalece com uso consistente. Gradualmente, seus compromissos se tornarão mais poderosos que seus impulsos momentâneos.

Como Stephen Covey observou: "Ao fazermos e mantermos promessas a nós mesmos e aos outros, pouco a pouco, nossa honra se torna maior que nossos humores." Não é sobre força de vontade bruta. É sobre cultivar uma integridade pessoal inabalável.

Não é uma jornada fácil. É um exercício diário de auto-reflexão e escolha consciente. Mas é nessa prática que manifestamos a liberdade que Frankl descobriu.

A CIÊNCIA DO OBSTÁCULO

A arte de tropeçar e a jornada da evolução

Existe em nós um impulso inato para evoluir, crescer, e melhorar. Essa vontade, quando vista sob a ótica da longevidade, conecta-se ao "porquê" viver mais e melhor, transcendendo o mero "como".

Nesse caminho de evolução, o fracasso surge como um aspecto doloroso, mas onipresente. Objeto de estudo crescente entre cientistas, a forma como encaramos o fracasso é crucial. Não se trata de romantizar a queda, mas de entender que cada tropeço é uma oportunidade velada de reflexão e aprimoramento. Se não erramos, talvez não estejamos nos arriscando o suficiente para crescer. O fracasso, longe de ser um fim, é uma pausa para recalibrar a rota e seguir com mais sabedoria e resiliência.

O Mito do talento inato: Lições de Einstein, Curie e Faraday

A crença de que o sucesso, especialmente na ciência, é reservado a talentos inatos é um grande obstáculo. O artigo "Even Einstein Struggled" desmistifica isso, mostrando como histórias de luta de grandes cientistas podem transformar a percepção dos estudantes sobre suas capacidades.

O estudo revelou que, ao aprender sobre as dificuldades intelectuais (erros em investigações) ou pessoais (pobreza, falta de apoio) de figuras como Albert Einstein, Marie Curie e Michael Faraday, a motivação dos alunos para aprender ciência aumentava, especialmente entre os de baixo desempenho. Isso sugere que a narrativa do "gênio intocável" é prejudicial; a do "gênio que lutou" é inspiradora.

O artigo aponta que a crença na capacidade inata leva muitos a desistir antes de desenvolverem seus talentos. Alunos que enfrentam dificuldades podem interpretar isso como falta de aptidão. Esse obstáculo impede o aumento de estudantes em carreiras STEM. O estudo propõe uma abordagem que modela o sucesso científico através de falhas e lutas, tornando o aprendizado mais humano. A mensagem é clara: o fracasso não é o oposto do sucesso, mas parte integrante do caminho. Na superação das adversidades, o potencial é revelado e a resiliência é forjada.

O poder do "Ainda não"

Nossa percepção das próprias habilidades molda nossa jornada. A psicóloga Carol Dweck, apresenta duas abordagens: mentalidade fixa e de crescimento.

A mentalidade fixa acredita que qualidades são imutáveis. Se você se vê com inteligência limitada, buscará provar que tem o suficiente, evitando desafios. Isso gera uma necessidade constante de validação, onde o fracasso é visto como condenação.

Já a mentalidade de crescimento é a convicção de que qualidades podem ser cultivadas pelo esforço. Em seu TED Talk, ela mostra como a frase a seguir transforma a percepção de um problema. Em vez de "não sou inteligente o suficiente", melhor pensar "ainda não resolvi isso". Essa mudança sugere que o fracasso não é um estado final, mas uma etapa no aprendizado. E um ótimo exemplo é a escola que dava "Ainda Não" em vez de “Reprovado”.

A mentalidade de crescimento ensina que o fracasso, embora doloroso, não nos define. É um problema a ser enfrentado, lidado e aprendido.

O tolo vem antes do herói

Em última análise, a vida é uma sucessão de tentativas. O fracasso, longe de ser deficiência, é algo que simplesmente faz parte da vida para a evolução pessoal e profissional. Ele nos força a confrontar limitações, questionar suposições e buscar novas formas de pensar. Ao considerar e aplicar a mentalidade de crescimento de Carol Dweck e aprender com as lutas de mentes como Einstein, Curie e Faraday, podemos transformar cada revés em um trampolim para um futuro promissor.

Lembre-se: “O tolo vem antes do herói". Todo mundo começa tropeçando. Que o "ainda não" se torne seu mantra, um lembrete constante de que o aprendizado é infinito e que cada desafio é uma oportunidade para se tornar uma versão melhor de si mesmo. Permita-se tropeçar, permita-se aprender e, acima de tudo, permita-se evoluir.

CIÊNCIA DO ENVELHECIMENTO

O potencial da longevidade

De uma forma simplista a longevidade tem dois lados: o primeiro depende um grande pedaço de nós mesmos, mudanças que temos que fazer, e, em segundo, inovações que só a ciência pode prover. Nesse lado, na vanguarda, existe um exército de cientistas e empresas que estão trabalhando para descobrir formas de envelhecermos biologicamente mais devagar e até rejuvenescer algumas células. Os investimento são bilionários e o esforço é tremente. E aqui eu queria te dar um espiada em uma das inovações que estão sendo conduzida por um cientista brasileiro (Lucas Camillo) que mora na Inglaterra, trabalha na Shift Bioscience e faz parte de um grupo seleto de cientistas, investidores e empreendedores de longevidade que está de formando no Brasil.

A revolução dos Fatores Yamanaka: Uma promessa e um desafio

Para entender o trabalho do Lucas Camillo e equipe, precisamos primeiro mergulhar em um conceito que revolucionou a biologia celular: os Fatores Yamanaka. Descobertos pelo cientista japonês Shinya Yamanaka, esses fatores de transcrição são um conjunto de quatro proteínas – Oct4, Sox2, Klf4 e c-Myc. A grande sacada de Yamanaka, que lhe rendeu o Prêmio Nobel, foi perceber que, ao introduzir esses fatores em células adultas comuns, como as da pele, era possível 'reprogramá-las'. Imagine que você tem uma célula especializada, com uma função específica, e de repente, ela volta a ser uma célula 'em branco', como as células-tronco embrionárias. Essas células reprogramadas, chamadas de células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs), têm a capacidade de se transformar em qualquer tipo de célula do corpo. É como dar um 'reset' no relógio biológico da célula, fazendo-a rejuvenescer para um estado mais primordial.

Essa descoberta abriu um leque de possibilidades para a medicina regenerativa. Pense na capacidade de criar novos tecidos ou até órgãos a partir das próprias células do paciente, eliminando problemas de rejeição. No entanto, essa promessa vem acompanhada de um desafio significativo: a segurança. O uso dos Fatores Yamanaka, em sua forma original, carrega um risco considerável de formação de tumores. Isso ocorre porque as células reprogramadas podem, em alguns casos, reter características que as tornam propensas a se desenvolverem em tumores. É um dilema: o poder de rejuvenescer, mas com o perigo de um crescimento descontrolado. É aqui que esse novo paper se torna tão empolgante.

SB000: A Busca por um Rejuvenescimento Seguro e Eficaz

O paper, que é um preprint que precisa ser validado por pares, apresenta uma solução inovadora para o dilema dos Fatores Yamanaka. Eles identificaram um único fator, que chamaram de SB000, capaz de rejuvenescer células com uma eficácia comparável aos Fatores Yamanaka, mas sem induzir os perigosos caminhos de pluripotência que levam à formação de tumores. Isso é um avanço incrível, pois significa que podemos ter os benefícios do rejuvenescimento celular sem os riscos associados.

Para chegar a essa descoberta, a equipe desenvolveu uma abordagem inteligente. Eles criaram um 'relógio de envelhecimento' transcriptômico, chamado AC3, que é extremamente preciso e permite analisar milhares de intervenções genéticas em larga escala. Pense nos 'relógios biológicos' que já discutimos em outra newsletter, o AC3 é uma versão avançada e focada na expressão gênica, que permite medir o quão 'jovem' ou 'velha' uma célula realmente é, independentemente da sua idade cronológica. Com essa ferramenta, eles conseguiram rastrear e identificar o SB000 entre 1.500 genes testados, que foram inseridos em fibroblastos dérmicos de idosos. 

Os resultados são bem animadores. O SB000 não apenas rejuvenesceu células da pele (fibroblastos dérmicos humanos), mas também mostrou eficácia células de outra camada germinativa, indicando uma ampla aplicabilidade. O mais importante é que, as células rejuvenescidas pelo SB000 mantiveram sua identidade original, sem sinais de pluripotência ou perda de função. Isso significa que uma célula da pele continua sendo uma célula da pele, mas uma célula da pele mais jovem e funcional. Essa capacidade de desacoplar o rejuvenescimento da pluripotência é a chave para o desenvolvimento de terapias seguras e amplamente aplicáveis para doenças relacionadas à idade.

O Impacto do SB000 na Longevidade e na Saúde Humana

Ainda existem muito outros estudos que precisam ser feitos, tanto no quesito segurança como no quesito aplicação ampla. No entanto a descoberta do SB000 e a criação do AC3 são mais um passo na busca por intervenções científicas que podem retardar ou até reverter o processo de envelhecimento. Imagine terapias que possam reverter os danos causados pelo envelhecimento em órgãos e tecidos, combatendo doenças como as cardiovasculares, neurodegenerativas e a osteoartrite. É um futuro onde o envelhecimento não é apenas uma inevitabilidade, mas um processo que pode ser gerenciado.

O fato de um cientista brasileiro, estar na vanguarda dessa pesquisa global, trabalhando em Cambridge, no Reino Unido, é motivo de grande orgulho e serve de inspiração. Isso demonstra o potencial do talento brasileiro em contribuir significativamente para os avanços científicos que moldarão o futuro da saúde e da longevidade em escala global. O esforço é enorme e o impacto, incalculável. Estamos apenas começando a desvendar os segredos do envelhecimento.

NOTÍCIAS

O que mais está acontecendo?

💡 Pesquisadores estão apostando nos testes de proteômica como a próxima geração de marcadores de idade biológica. Ao medir proteínas circulantes no sangue, a técnica permite avaliar em tempo real como diferentes órgãos estão envelhecendo e pode ajudar a personalizar decisões sobre dieta, sono, suplementos e medicamentos.

💡 A Anvisa aprovou o uso da tirzepatida (nome comercial Mounjaro) para o tratamento da obesidade no Brasil. O medicamento já era autorizado para diabetes tipo 2, mas agora pode ser indicado para obesidade associada a pelo menos uma comorbidade.

 💡 A Apple anunciou o WatchOS 26 com foco em saúde e inteligência artificial. A principal novidade é o Workout Buddy, um assistente motivacional integrado ao app de treino, que adapta estímulos com base no contexto. O sistema também ganhou tradução automática, sugestões de playlist conforme o treino e design “Liquid Glass” com nova linguagem visual.

💡 Rony Meisler, fundador da Reserva, entrou como investidor na Norte Media via seu fundo Rebels Ventures. A startup lançou a Guday, gummy de creatina da influencer Manuela Cit, que já é considerado um “fenômeno” de demanda recorrente. A marca deve faturar R$ 80 milhões este ano.

💡 A Juvena Therapeutics fechou parceria com a Eli Lilly para desenvolver terapias que melhorem massa muscular e composição corporal. O acordo pode render até US$ 650 milhões e usará IA para identificar proteínas regenerativas derivadas de células-tronco, com foco em obesidade e fragilidade.

VALE SABER

"Se, em algum cataclismo, todo o conhecimento científico fosse destruído e apenas uma frase pudesse ser transmitida às próximas gerações, qual conteria mais informação com o menor número de palavras? Acredito que seria a hipótese atômica — ou o fato atômico, como quiser chamar — de que todas as coisas são feitas de átomos: pequenas partículas em movimento perpétuo, que se atraem quando estão um pouco distantes e se repelem quando comprimidas umas contra as outras. Nessa única frase, há uma quantidade enorme de informação sobre o mundo, se aplicarmos um pouco de imaginação e raciocínio."

— Fonte: Richard Feynman

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