Bom dia. Ao abrir essa news, como você está? Como está se sentindo? Lembre. Longevidade também é personalização e individualidade, pois cada corpo reage de um jeito. Por isso uma das suas melhores ferramentas é aprender a “ler o que corpo e mente dizem. Eles falam o tempo todo. Esteja atento.

🔎 RESUMO DA EDIÇÃO DE HOJE (TL;DR)

🧪 Café desacelera o relógio? O consumo moderado aparece ligado a relógios biológicos mais jovens. Explico, de forma simples, o que são relógios epigenéticos, onde entra a metilação, o que os estudos mostram e bons princípios para aplicar no dia a dia.

🏃 Movimento, por Dr. Luiz Delboni Marchese. O corpo escuta, e a linguagem é o movimento. Um texto forte e pessoal sobre como mobilidade, força, sono e mente formam um sistema. Três decisões práticas para destravar sua longevidade.

🧊 Frio e a mente. Sessões curtas e seguras de crioterapia mostram redução de sintomas depressivos e ansiosos como complemento ao cuidado. Falo do que os estudos testaram, limites e como começar com água fria sem exagero.

💡 Notícias da semana. Thyme Care capta US$ 97 mi e escala modelo de oncologia por valor; por que radiologia não foi “substituída” pela IA; UpToDate lança Expert AI; Aerska sai do stealth com US$ 21 milhões; o que a ciência do sono realmente recomenda, em artigo da Nature.

📚 Vale Saber. James Nestor relata o experimento de bloquear o nariz: em 24 horas, ronco e eventos de apneia disparam. Um lembrete simples e potente sobre respirar bem para dormir melhor.

CAFEÍNA E A LONGEVIDADE

O café pode desacelerar o relógio?

São poucas as pessoas que não tomam café. É senso comum que ele ajuda a manter você acordado e rende em performance física e cognitiva. Mas hoje o papo é outro: será que o consumo de café pode reduzir o ritmo do nosso envelhecimento biológico?

A epigenética e por quê medir

Epigenética é como o corpo “anota” no DNA quais genes devem trabalhar mais ou menos, sem mudar a sequência do DNA. Uma dessas anotações é a metilação do DNA. Certos padrões de metilação mudam com a idade e permitem criar relógios epigenéticos, que estimam a “idade biológica”. O Dr. Ricardo di Lazzaro já explicou aqui esse mapa do envelhecimento e por que medir bem é vital para orientar ações práticas.

O que a ciência viu sobre café e relógios

Uma análise que reuniu dados de vários estudos encontrou 11 marcas no DNA que aparecem de forma diferente em quem bebe café com regularidade. Essas marcas, chamadas metilações, são sinais epigenéticos que mudam ao longo da vida. A meta-análise não mede idade biológica diretamente, mas o padrão observado se conecta a vias de metabolismo de gorduras e função do fígado e é coerente com resultados de relógios epigenéticos que estimam envelhecimento biológico, como GrimAge, PhenoAge e DunedinPACE. Não é prova de causa, mas é um sinal biológico consistente, com a ressalva de que parte dessas marcas também muda em fumantes (nesse caso pro lado negativo), o que pede cautela na interpretação, pois alguns pacientes fumavam e outros não.

E onde entram os relógios biológicos calculados a partir de exames? Em análises populacionais recentes, beber café de forma moderada se associa a idade biológica menor em relação à cronológica, usando algoritmos como PhenoAge e KDM-BA, inclusive após ajustes por fatores de estilo de vida. Esses dados são observacionais, então servem como evidência de associação, não de causa. Mas, junto com o estudo acima, compõem um quadro coerente: o café pode ser um aliado para envelhecer mais devagar quando bem usado.

Como transformar em prática segura

  1. Horário importa. Para proteger seu ciclo circadiano e o sono profundo, concentre o café na manhã e evite cafeína a partir do meio-dia ou, no máximo, até o almoço. A cafeína tarde desloca seu relógio interno e reduz a qualidade do sono, que é um pilar da longevidade saudável.

  2. Dose moderada. Em geral, 2 a 3 xícaras ao dia funcionam bem para a maioria (para os nerds a literatura fala entre 3-6mg de cafeínas por kg de peso corporal por dia). Observe sinais como ansiedade, palpitação, refluxo ou piora do sono e ajuste.

  3. Qual é o melhor preparo? O método filtrado reduz diterpenos que podem elevar LDL em algumas pessoas. Se colesterol é uma preocupação, prefira filtrado no dia a dia e deixe o espresso sem filtro para momentos pontuais. Outro dia explico melhor as diferenças entre os métodos em relação aos vários aspectos de saúde. 

  4. Café não é atalho. Ele deve somar com o básico que mais pesa no relógio: sono regular, alimentação de verdade, atividade física e manejo do estresse. Sou longevidade é resposta ao ambiente que você cria, xícara por xícara, dia após dia.

Em resumo há um fio de evidência biológica mostrando que o café conversa com o epigenoma e um conjunto de estudos associando consumo moderado a marcadores de envelhecimento mais lento. Falta provar causalidade em ensaios que acompanhem relógios epigenéticos ao longo do tempo, controlando melhor por hábitos como o tabagismo. Até lá, vale a versão simples e eficaz: café de manhã, dose moderada, sono protegido e o resto do estilo de vida puxando na mesma direção.

PALAVRA DO ESPECIALISTA

Movimento: A linguagem secreta da sua longevidade

Observe uma criança por cinco minutos. A quietude é uma pausa breve; o movimento é seu estado natural. Correr, pular, girar. Essa energia que parece infinita não é um acaso do desenvolvimento. É um código. É a mais pura expressão de um segredo que, como adultos, nos esforçamos para esquecer: nosso corpo foi desenhado para se mover.

Por anos, a medicina tratou o exercício como um remédio, uma pílula amarga que engolimos para evitar doenças. Uma obrigação na agenda. A verdade, no entanto, é muito mais profunda e visceral. A ciência de ponta hoje dá um nome a essa energia infantil: um impulso primário. Assim como a fome nos avisa que precisamos de nutrientes, a inquietação nos sinaliza uma fome de movimento. É o seu corpo implorando para que você cumpra o seu propósito mais fundamental.

O cérebro infantil anseia por movimento para se desenvolver, regular emoções e construir suas fundações neurológicas. Mas o que oferecemos em troca? A tela, com seu brilho hipnótico, que sequestra esse impulso e o substitui por uma recompensa passiva e imediata. A criança que não corre, não explora e não interage fisicamente com o mundo se torna mais suscetível à ansiedade e ao déficit de atenção. Então, essa criança se torna o adulto. A contenção da vida social e profissional nos veste com uma jaqueta de força invisível. Aprendemos a reprimir a inquietude, a ignorar os sinais do corpo e a associar sucesso com longas horas de imobilidade. É assim que os anseios da modernidade se instalam: acabamos procurando por curas complexas para um problema cuja solução é a mais instintiva e natural de todas.

Como médico ortopedista e pai de 2 pequenos turbilhões de energia, vejo essa verdade todos os dias. Mas é a minha experiência com atletas de elite que me ensinou a lição mais poderosa sobre longevidade. Nenhum campeão olímpico vence tratando seu corpo como uma máquina quebrada, consertando uma peça aqui e outra ali. A vitória – e a saúde duradoura – nasce de uma visão integrada, onde mobilidade, sono, nutrição, força e saúde mental não são capítulos separados, mas frases de uma mesma canção.

E o movimento é a melodia que conecta tudo.

Quando você se move, seu corpo não está apenas queimando calorias. Ele está conversando consigo mesmo. Ele está liberando o seu próprio coquetel de bem-estar: endorfinas que silenciam a ansiedade e o BDNF, uma proteína que funciona como um adubo para a genialidade do seu cérebro, afiando sua memória e clareza. Você não está “malhando”. Você está regendo a orquestra da sua própria biologia.

É por isso que, com meus filhos, o jogo mudou. Não falamos em “fazer exercício”. Falamos em aprender a linguagem do corpo. Para minha filha de 3 anos, a lição é a pura alegria de correr e dançar. Para o meu filho de 8, é a constante alegria da descoberta de chutar uma bola, entendendo a física instintiva do movimento, cobiçando o benefício escondido na disciplina de uma prática. Estou dando a eles o vocabulário do movimento, para que, no futuro, eles não precisem de um tradutor para entender o que seus corpos lhes pedem.

A boa notícia? Esse impulso não morre. Ele apenas é silenciado pelo conforto das cadeiras, pela hipnose das telas e pela falsa crença de que descanso é sinônimo de imobilidade. Resgatar essa força é mais simples do que parece.

Sua jornada para uma longevidade vibrante começa com três decisões:

  1. Decodifique os sinais. Aquele desconforto na cadeira, a necessidade de esticar as pernas? Não é um defeito. É um alarme. É seu corpo dizendo: “Lembre-se de mim”. Ouça. Levante-se.

  2. Mapeie seu território. Conhecimento é o mapa do tesouro da saúde. Use a tecnologia dos “wearables” para entender seu sono e seus padrões de atividade. Mas vá além: procure profissionais que façam uma avaliação funcional completa. Descubra como você se move, onde estão seus pontos fortes e o que precisa de atenção, na postura do cotidiano e, eventualmente, no seu esporte preferido.

  3. Exija uma equipe, não peças soltas. Sua saúde merece mais do que consultas isoladas. Procure uma abordagem onde seu médico, fisioterapeuta e nutricionista joguem no mesmo time, com a mesma meta: o seu objetivo de saúde.

No fim, a busca pela longevidade não se resume a adicionar anos à sua vida. Trata-se de injetar vida pulsante em cada um dos seus anos. E a vida, em sua essência mais pura, é movimento.

Baseado nesses artigos:

A CIÊNCIA DO GELO

O frio e a mente

Já é bem conhecido e difundido o benefício do gelo para diminuir inflamação e reduzir a dor muscular tardia após treino. Mas há um tema que me interessa muito: o efeito das terapias de frio sobre a saúde mental. Nos últimos anos, surgiu uma literatura pequena, porém consistente, sugerindo que sessões curtas de frio controlado podem reduzir sintomas depressivos e ansiosos quando usadas como complemento ao cuidado clínico.

O que a ciência já testou

Quando falo em crioterapia de corpo inteiro, estou me referindo a entrar em uma câmara com ar muito frio por 1 a 3 minutos, geralmente entre −110 °C e −160 °C, com proteção nas extremidades e supervisão. Em um estudo com pessoas em tratamento para depressão, um protocolo de aproximadamente 10 sessões ao longo de duas semanas levou a reduções maiores de sintomas em questionários clínicos padronizados em comparação a um grupo controle. Esses questionários, como o BDI-II e a HAM-D, são ferramentas usadas por profissionais para medir a intensidade de sintomas como humor deprimido, anedonia e agitação em escalas numéricas, o que permite comparar a evolução ao longo do tempo.

Uma meta-análise, reunindo diferentes trabalhos, aponta um padrão semelhante: quando a crioterapia é adicionada ao cuidado usual, há melhora média de sintomas depressivos e um ganho moderado em bem-estar e qualidade de vida. Ainda assim, convém ser prudente. As amostras são pequenas, os protocolos variam bastante entre os estudos e nem sempre existe um grupo de comparação ideal. Essa heterogeneidade dificulta dizer qual temperatura, frequência e número de sessões seriam “o” protocolo mais eficaz. Também não está claro qual é o principal mecanismo. Alguns autores propõem uma combinação de respostas ao frio nos receptores da pele, mudanças temporárias no sistema nervoso autônomo e uma descarga de neurotransmissores que poderia modular humor e energia. Outros lembram que efeitos indiretos, como dormir melhor ou se sentir mais disposto para rotinas saudáveis, podem explicar parte do benefício.

E onde entra o gelo fora da câmara? Protocolos com água fria, como imersão em água fria em banheiras de gelo ou natação em mar, lago ou piscina fria, têm menos estudos focados em saúde mental. Mesmo assim, os poucos dados disponíveis são animadores. Em um estudo com 53 pessoas com depressão ou ansiedade, oito sessões de natação em água fria em quatro semanas reduziram a gravidade de sintomas em média de forma expressiva. Há um porém importante: como o grupo não teve um controle de exercício sem frio, não dá para separar com segurança o efeito do frio do próprio exercício. O ponto é que, apesar de a base científica ser menor, existe um caminho promissor para a imersão em água fria, desde que a gente reconheça as limitações metodológicas.

Como levar para a prática, com segurança

Primeiro, encare o frio como complemento, não como substituto de tratamento. Se a pessoa tem diagnóstico de depressão ou ansiedade, a prioridade é acompanhamento profissional. A crioterapia de corpo inteiro, quando disponível, costuma seguir 10 sessões em dias úteis, de 1 a 3 minutos, com triagem prévia, supervisão e proteção de mãos, pés e orelhas. Pessoas com problemas cardiovasculares, respiratórios, alguma condição neurológica ou sensibilidade ao frio precisam de avaliação médica antes.

Para quem só tem acesso à água fria, a regra é progressão. Comece com duchas curtas e respiração controlada, depois avance para imersões parciais e, por fim, imersões mais completas, sempre em ambiente seguro e sem fazer isso sozinho. Um guia simples é acumular de 5 a 11 minutos semanais de exposição fria distribuídos em 2 a 4 sessões, ajustando conforme resposta individual. Tontura, dormência persistente, dor no peito ou sensação de confusão são sinais para interromper e procurar avaliação.

O que dá para concluir hoje? Que o frio, em protocolos curtos e controlados, pode ajudar a aliviar sintomas depressivos e ansiosos. A base para crioterapia de corpo inteiro é mais sólida do que para água fria, mas ambas apontam na mesma direção. Precisamos de estudos maiores, com seguimento mais longo e comparações melhores para responder quem se beneficia mais e por quanto tempo o efeito se mantém. Até lá, vale usar ciência e bom senso: comece devagar, respeite seus limites, mantenha o cuidado principal em dia e use o frio como mais uma ferramenta para se sentir e viver melhor.

NOTÍCIAS

O que mais está acontecendo?

💡 Thyme Care levantou US$ 97 milhões em Series D com investidores estratégicos de todo o ecossistema oncológico, inclusive com VCs famosos como a16z. Reportou lucratividade, gere US$ 5 bilhões em gastos e ampliou acesso para 8 milhões de pessoas. A empresa agora avança modelos de cuidado oncológico baseados em valor, integração e melhor experiência do paciente.

💡 Análise do por quê, apesar de mais de 700 modelos de IA aprovados para radiologia e desempenho superior em benchmarks, a substituição humana não chegou. Fora do teste, os modelos perdem acurácia, enfrentam barreiras regulatórias e de seguro, e cobrem apenas “ilhas” de tarefas. Resultado: radiologistas seguem mais demandados e bem pagos, enquanto a IA atua sobretudo como aceleradora e triagem inteligente.

💡 UpToDate lançou o Expert AI — até que enfim. Depois do avanço de concorrentes como OpenEvidence, ficava a pergunta de quando a Wolters Kluwer entraria no jogo. Agora entrou, com conteúdo revisado por mais de 7.600 especialistas e rollout inicial para cerca de 250 mil usuários na América do Norte em outubro. Recursos eles têm; resta ver execução e adoção clínica de verdade.

💡 Aerska sai do stealth com US$ 21 milhões para desenvolver RNAi sistêmico usando “brain shuttles” em conjugados AOC, visando atravessar a barreira hematoencefálica e silenciar genes no SNC. Baita time veterano em RNA e neuro inicia programas em formas genéticas de Alzheimer e Parkinson. Se a entrega funcionar em humanos, abre caminho para terapias de precisão em neurologia.

💡 Nature traz um guia do que realmente funciona para dormir melhor: priorize contraste de luz (muita luz natural de dia, pouca à noite), horários de refeições mais cedo e regularidade para deitar e acordar. Gadgets e modismos ajudam pouco e podem atrapalhar. A mensagem prática: caminhe ao ar livre de manhã, reduza telas e iluminação à noite, jante cedo e mantenha um horário consistente de sono.

VALE SABER

“É noite no segundo dia do experimento de respiração pela boca de Stanford, e estou na cama com tampões de silicone enfiados nas cavidades nasais, cobertos com fita adesiva.

A inflamação na garganta e os pólipos contribuem tanto para o ronco quanto para a apneia do sono. A obstrução nasal também desencadeia esse sufocamento noturno, mas ninguém sabe quão rapidamente o dano aparece ou quão grave ele pode se tornar. Até agora, ninguém havia testado isso.

Na noite passada, na minha primeira sessão de sono com obstrução nasal autoinduzida, meu ronco aumentou 1.300 por cento, chegando a 75 minutos ao longo da noite. Os números do Olsson foram ainda piores. Ele passou de zero para quatro horas e dez minutos. Eu também sofri um aumento de quatro vezes nos eventos de apneia do sono. Tudo isso, em apenas 24 horas.”

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