Você já ouviu (ou até já disse): “Eu durmo 6 horas, acordo bem e pronto. Não preciso de mais.” Mas será mesmo? Ou será que estamos subestimando o preço de viver com menos sono?

Essa crença é tão comum que virou quase um símbolo de produtividade. Só que, para quase todo mundo, a matemática biológica não permite esse “atalho”. Existem sim raríssimas exceções: pessoas com mutação no gene DEC2, que literalmente nasceram para precisar de menos sono. Elas produzem mais orexina, um neuropeptídeo que nos mantém acordados, e, por isso, conseguem funcionar bem dormindo apenas 5 horas por noite. Só que a chance de carregar essa mutação é tipo a mesma chance que ganhar na Mega Sena. Pois é!

Para o restante de nós, dormir menos de 7 horas traz consequências reais, progressivas e documentadas em estudos de alta qualidade.

O que a ciência já mostrou sobre dormir pouco

Doenças cardiovasculares: Adultos com 45 anos ou mais que dormem menos de 6 horas por noite têm 200% mais risco de sofrer um ataque cardíaco ou derrame ao longo da vida, em comparação com quem dorme sete a oito horas. A privação de sono afeta diretamente a pressão arterial e acelera o envelhecimento das artérias.

Diabetes tipo 2: Bastou uma semana dormindo apenas 4 horas por noite para que jovens saudáveis se tornassem 40% menos eficientes na absorção de glicose. Nos exames, os voluntários passaram a apresentar sinais claros de pré-diabetes.

Obesidade e regulação hormonal: Dormir pouco desregula profundamente hormônios da saciedade e fome, aumentando em 300 calorias o consumo diário médio e favorecendo o desejo por doces, carboidratos e alimentos salgados (preferência aumentada de 30-40%).

Sistema imunológico: Uma única noite de 4 horas de sono já elimina 70% das células Natural Killer, responsáveis por combater infecções e tumores. O impacto é tão profundo que a Organização Mundial da Saúde classificou o trabalho noturno como “provável carcinógeno”.

Alterações genéticas e envelhecimento: Dormir pouco por apenas uma semana modifica a atividade de 711 genes, incluindo genes ligados à inflamação, resposta ao estresse e doenças cardiovasculares. Também há evidências de danos aos telômeros, estruturas que protegem nosso DNA e se desgastam mais rápido quando o sono é insuficiente.

Perda de massa muscular durante dietas: Em experimentos, pessoas em dieta que dormiam menos de 6 horas perderam 70% do peso como músculo, enquanto quem dormia bem perdeu principalmente gordura.

Depressão e ansiedade: Dormir menos de 6 horas por noite multiplica o risco de depressão por 2,5 vezes e aumenta em mais de 20% o risco de sintomas de ansiedade, depressão. Uma única noite mal dormida já é suficiente para elevar significativamente os sintomas de ansiedade e reduzir as emoções positivas.

Mas… “Eu me sinto bem dormindo pouco!”

Aqui entra uma armadilha biológica. A sensação de que “está tudo bem” é traiçoeira. O cérebro privado de sono é ruim em avaliar o próprio desempenho. Vários estudos mostraram que, mesmo acreditando estar “ok”, a performance mental, emocional e até o tempo de reação estão comprometidos.

Matt Walker, junto com Eric Topol, resume bem: “A probabilidade de você ser um short sleeper genético é menor do que ser atingido por um raio.”. O mais seguro é dormir pelo menos 7 horas todas as noites.

No futuro, e a corrida já começou, talvez a ciência descubra uma forma de “zipar” o sono sem consequências, mas, até lá, não vale apostar na sorte. O sono é o maior seguro de vida de baixo custo que existe. Priorize 7 horas ou mais por noite. Seu corpo, seu cérebro e sua longevidade agradecem.

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