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Mulheres têm o dobro de risco de desenvolver Alzheimer — mas a ciência ainda não sabe por quê
7 minutos de conhecimento sobre como viver mais e melhor

Duas em cada três pessoas com Alzheimer são mulheres. Por muito tempo, acreditou-se que isso era apenas consequência da maior expectativa de vida feminina. Mas essa explicação já não se sustenta.
Se as mulheres vivem, em média, apenas 4,5 anos a mais que os homens, por que o risco de Alzheimer nelas é mais do que o dobro? A verdade é que a ciência ainda não tem uma resposta definitiva — e isso escancara mais uma falha histórica na pesquisa sobre a saúde feminina.
Assim como abordamos na edição anterior da Longevidade News, as mulheres vivem mais, mas passam mais anos com saúde comprometida. E o Alzheimer pode ser o maior símbolo desse paradoxo.
O que a ciência sabe até agora?
Novas pesquisas começam a apontar que o risco elevado de Alzheimer nas mulheres pode estar ligado a três principais fatores:
Menopausa e metabolismo cerebral → A menopausa é um período crítico para o cérebro feminino. O estrogênio, além de seu papel na reprodução, é essencial para a captação de glicose pelas células cerebrais. Com sua queda, o cérebro entra em uma "crise energética", podendo levar à neurodegeneração.
Fatores metabólicos e cardiovasculares → A saúde metabólica tem um peso maior no risco de Alzheimer feminino. Pressão alta, resistência à insulina e disfunção lipídica parecem ser mais impactantes para mulheres do que para homens.
Influências sociais e estruturais → Diferenças históricas no acesso à educação e ao trabalho intelectual podem impactar a proteção cognitiva ao longo da vida, reduzindo a chamada "reserva cognitiva", um dos principais fatores que retardam o declínio neurológico.
O cérebro feminino na menopausa: um gatilho para Alzheimer?
Um estudo publicado recentemente na Nature Medicine reforça que a menopausa pode ser um dos principais gatilhos biológicos do Alzheimer. Usando exames de imagem de ressonância magnética e PET Scan, pesquisadores identificaram que:
Mulheres na menopausa apresentam 22% menos metabolismo cerebral do que homens da mesma idade.
A quantidade de placas beta-amiloides, um marcador da doença de Alzheimer, é 30% maior nas mulheres.
O cérebro feminino pode estar consumindo sua própria substância branca como fonte de energia, acelerando o processo de neurodegeneração.
Lisa Mosconi, neurocientista e uma das autoras do estudo, reforça:
"O Alzheimer não é uma doença da velhice. É uma doença da meia-idade, cujos sintomas só aparecem na velhice."
Isso significa que a prevenção do Alzheimer precisa começar décadas antes dos primeiros sintomas.
Terapia de Reposição Hormonal (TRH): solução ou risco?
A relação entre menopausa e Alzheimer também levantou uma questão polêmica: a Terapia de Reposição Hormonal (TRH) pode ajudar a reduzir o risco da doença?
Segundo a pesquisadora Roberta Brinton, estudos sugerem que:
Mulheres que fazem TRH por pelo menos 3 anos têm um risco 40% menor de desenvolver Alzheimer.
Esse número sobe para 60% em mulheres que fazem TRH entre 3 e 6 anos.
E pode chegar a 80% em quem faz TRH por mais de 6 anos.
Por outro lado, algumas pesquisas indicam que iniciar a TRH tarde demais pode aumentar o risco. E ainda veja o que a professora Michelle Mielke comenta:
“É importante destacar que a menopausa é uma fase natural e que ela não causa a doença de Alzheimer. Os médicos não devem prescrever terapia hormonal para a menopausa apenas para prevenir a demência, mas mulheres com sintomas menopáusicos podem usá-la sem problema.”
Isso gera um baita problema: sem consenso, muitas mulheres ficam sem informação suficiente para tomar decisões.
Alzheimer também é uma doença social
O estudo também reforça que o risco de Alzheimer feminino vai muito além do biológico.
Mulheres que tiveram menos acesso à educação formal apresentam maior risco de demência.
Trabalho intelectual e estímulo cognitivo ao longo da vida são fatores protetores contra a doença.
Mulheres que vivem em regiões com altos índices de desigualdade de gênero têm um declínio cognitivo mais acelerado.
Ou seja, o Alzheimer feminino é uma doença que nasce da interação entre biologia, sociedade e história.
O que precisa mudar?
Apesar de as mulheres representarem 64% dos casos de Alzheimer no mundo, apenas 12% do financiamento global para pesquisas em demência é direcionado para estudos focados nelas.
Se queremos mudar esse cenário, algumas ações são urgentes:
Mais pesquisas focadas no cérebro feminino: As diferenças biológicas precisam ser estudadas de forma mais profunda.
Diretrizes claras para a TRH: Mulheres precisam de informação baseada em evidências para decidir sobre o uso de hormônios.
Prevenção precoce: O Alzheimer começa na meia-idade. Monitorar fatores de risco deve ser parte dos check-ups de saúde feminina.
Reconhecimento do impacto social e econômico: Longevidade não é apenas viver mais, mas viver com qualidade.
O fato é: A ciência e a longevidade também precisam ser pensadas levando em conta as diferenças entre os sexos.
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