Já está bem estabelecido: a luz solar é um dos maiores “remédios” naturais para saúde, longevidade e performance. A ciência mostra, há anos, que ela regula o relógio biológico, impacta o humor, fortalece o sistema imune, otimiza a produção hormonal e melhora até a tomada de decisão. Não à toa que o Andrew Huberman coloca “expor-se à luz solar nas primeiras horas do dia” entre os cinco pilares básicos de saúde e longevidade.
O Novo Estudo: Infravermelho próximo e efeitos sistêmicos
Um novo estudo publicado este mês mostrou algo muito interessante. Pesquisadores do Reino Unido descobriram que certos comprimentos de onda da luz solar em especial o infravermelho próximo (830 a 860 nanômetros) são capazes de atravessar tecidos humanos, inclusive roupas comuns, e gerar efeitos benéficos muito além do que imaginávamos.
O experimento é doido: voluntários foram expostos a luz de 850 nm, tanto de forma natural (sol) quanto por painéis de LED, direcionada apenas nas costas, com a cabeça completamente coberta por papel alumínio para evitar contato com os olhos. O resultado? Vinte e quatro horas depois, esses participantes apresentaram melhora significativa na sensibilidade visual, especialmente na distinção de cores. O ganho chegou a 16% em certas faixas de cor, e mesmo com a cabeça protegida o efeito foi estatisticamente relevante.
A explicação está na biologia das mitocôndrias. Essas organelas que são especialmente abundantes na retina e têm uma curiosa sensibilidade à luz de comprimentos longos. Quando expostas a esse tipo de luz, as mitocôndrias aumentam a produção de ATP (energia celular), melhorando o funcionamento dos tecidos, inclusive à distância. É um efeito chamado abscopal: o estímulo da luz na pele ativa um efeito sistêmico que repercute inclusive em regiões distantes, como os olhos.
Retinas, Envelhecimento e Saúde Visual
Por que isso é relevante? A retina é um dos tecidos do corpo com maior concentração de mitocôndrias e uma das primeiras regiões a sofrer com o envelhecimento. O declínio do metabolismo mitocondrial na retina está ligado à piora progressiva da visão, especialmente na sensibilidade ao contraste de cores, aquela capacidade de distinguir objetos em fundos parecidos, fundamental para a vida real, mas que vai se perdendo com a idade.
O novo estudo mostrou que, ao estimular as mitocôndrias com luz infravermelha, mesmo distante dos olhos, é possível melhorar essa função visual de maneira consistente e mensurável. Não por acaso, a literatura já vinha sugerindo efeitos semelhantes em animais. A exposição a comprimentos de onda entre 660 e 1000 nm não só melhora o metabolismo energético, mas também reduz inflamação e protege contra danos associados à idade.
Ambientes Modernos: Um desencontro evolutivo
Outro ponto fundamental: os ambientes fechados e a iluminação artificial moderna, dominada por LEDs, cortam exatamente esses comprimentos de onda. A luz artificial das casas e escritórios privilegia a faixa azul e praticamente elimina o infravermelho, criando um desencontro evolutivo entre a luz para a qual nosso corpo evoluiu e a que recebemos hoje.
E mais: roupas comuns, mesmo em várias camadas, são surpreendentemente transparentes para a luz de 850 nm. Ou seja, mesmo vestido, você ainda pode colher parte desse benefício, mas apenas se estiver sob o espectro solar completo, algo que nenhuma lâmpada doméstica oferece.
O Sol completo é insuperável
O estudo reforça um ponto central para quem busca saúde e longevidade. Não basta se proteger do excesso, é preciso garantir a exposição certa. Você não precisa passar horas ao sol para colher esses benefícios e nem deve. Tanto o novo estudo quanto as recomendações de especialistas mostram que 15 minutos de exposição diária à luz solar já são suficientes para estimular as mitocôndrias e favorecer a saúde ocular e metabólica. Sempre que possível, escolha horários em que o sol está mais baixo, como nas primeiras horas da manhã. O espectro total do sol é insubstituível, e seus benefícios vão além da vitamina D ou do relógio biológico. Eles estão nas mitocôndrias, na visão, no metabolismo, na energia vital de cada célula.
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