
EDIÇÃO APOIADA POR
Bom dia. Como muita gente, aqui também estamos sem energia, mas demos um jeito de entregar mais uma edição. Impressionante como, nos momentos de necessidade, a comunidade se organiza, alguém empresta, outro ajuda. O que nos lembra que saber pedir ajuda também é um super-poder. Não é à toa que comunidade faz parte dos pilares da longevidade.
🔎 RESUMO DA EDIÇÃO DE HOJE (TL;DR)
❤️ O poder da gratidão: um estudo de Harvard mostra que a gratidão não é só um sentimento, mas um fator biológico ligado a menor mortalidade, menor inflamação e a uma leitura mais equilibrada da realidade, especialmente quando envolve reconhecer o que vem de fora de nós.
🐟 Ela cuida de todos: a Dra. Priscilla Camilo explica como a carga mental feminina aumenta risco cardiovascular, acelera desgaste emocional e físico, e por que limites, movimento, sono e apoio profissional se tornam pilares de proteção real.
🧠 A corrida contra o esquecimento: dados do Framingham revelam que a meia-idade é a janela mais poderosa para proteger o cérebro contra demência, e mostram que mesmo aos 65+ o exercício reduz risco, chegando a 66% entre portadores do gene APOE ε4 mais ativos.
💡 Notícias da semana: a OMS lança diretrizes globais para diabetes na gestação, a FDA revisa alertas da terapia hormonal, avança o primeiro exame de sangue para Alzheimer na atenção primária, um novo mapa genético amplia o entendimento do câncer de mama e a Hims & Hers adquire uma tecnologia de coleta de sangue praticamente indolor.
📚 Vale Saber: Paul Davies lembra que ciência não é uma máquina objetiva, mas uma atividade humana moldada por épocas, ideias e pessoas que definem como enxergamos o mundo.
O OLHAR PARA FORA
O poder da gratidão

Agora no fim do ano, pensamos muito no futuro. Metas, planos, mudanças. É quase automático. Mas existe um aspecto igualmente importante e menos discutido: olhar para trás. Não apenas para lembrar o que aconteceu, mas para reconhecer o que sustentou você ao longo do caminho. Esse reconhecimento tem nome. É gratidão. E a ciência começa a mostrar que ela não é apenas uma sensação agradável. É um fator biológico relevante para longevidade.
O que a ciência diz?
Em 2024, pesquisadores da Harvard T. H. Chan School of Public Health analisaram mais de 49 mil mulheres idosas ao longo de três anos. O resultado principal é bem intuitivo: níveis mais altos de gratidão se associaram a uma redução de 9% na mortalidade por todas as causas e 15% na mortalidade cardiovascular, mesmo após ajustes rigorosos para saúde física, estilo de vida, fatores sociais e indicadores emocionais. Ou seja, eles compararam pessoas com "problemas” iguais para não enviesar a análise.
O mecanismo mais estudado envolve o sistema de estresse. Quando alguém desenvolve uma prática regular desse reconhecimento há melhora no tônus do nervo vago e na variabilidade da frequência cardíaca, dois marcadores ligados à capacidade de recuperação fisiológica e ao stress. Isso se traduz em menor ativação inflamatória e menor desgaste crônico. A gratidão, nesse sentido, funciona como uma barreira no sistema que define como você responde ao mundo.
Mas ela também mexe na forma como o cérebro interpreta a realidade. A neurociência descreve que o cérebro humano tem um viés natural para detectar risco. Que é “útil”, mas que pode produzir um estado constante de vigilância. Estudos mostram que a prática consistente de gratidão ativa regiões frontais envolvidas em regulação emocional, reduz “ruminação” e aumenta a percepção de que algo está me suportando. Não significa ignorar problemas. Significa que, mesmo diante de dificuldades, existe uma força para reconhecer o que está presente e o que sustenta você.
E aqui entra um importante, que muitas vezes passa despercebido. Gratidão, do ponto de vista científico, não significa “pensamento positivo”. Ela depende de dois passos:
Reconhecer algo bom; e
Atribuir essa experiência a algo que está fora de você.
Essa segunda parte muda completamente o efeito. Quando você reconhece que determinada experiência, ajuda, oportunidade ou momento não veio da sua força individual, algo muda. Você entende que a vida é construída com outros. Com pessoas. Com circunstâncias. Com o Divino. Esse movimento reduz o isolamento psicológico e reforça vínculos, que por si só são determinantes de saúde e longevidade.
Na prática
O interessante é que essa lógica conversa diretamente com a discussão sobre espiritualidade e longevidade. Nos dois casos, existe um deslocamento do centro. Em vez de você ser o centro, há um reconhecimento de que a vida é atravessada por relações, por cuidado, por provisão, algo além. A ciência pode medir efeitos fisiológicos, mas é essa percepção de interdependência que transforma a forma como alguém enfrenta perdas, incertezas e desafios. É isso que define resiliência.
E, como quase tudo que envolve neuroplasticidade, gratidão não depende de intensidade. Depende de repetição (reps). Todo dia alguns minutos. Os estudos mais eficazes usam práticas simples, como escrever diariamente três coisas pelas quais você tem gratidão e explicar por que elas foram importantes. Não basta listar.
Errado: "Grato pelo café."
Certo: "Grato pelo café quente hoje de manhã porque me deu uma pausa necessária antes de uma reunião estressante."
Gratidão não é levantar a mão para o céu e fingir que está tudo bem. É reconhecer que, apesar do que não deu certo, muita coisa nos deu base até aqui. E é nisso que tem um “segredo final”, que talvez a ciência tenha dificuldade de comprovar, o poder de conseguir ser grato mesmo pelos desafios, pelos problemas, confiante que apesar deles, “todas as coisas cooperam para bem…”.
UM CONTEÚDO DO INSTITUTO ASSALY
Personalização para uma vida melhor

No Instituto Assaly, acreditamos que longevidade é viver mais, é viver melhor, com autonomia, clareza e saúde integral. Somos um centro de excelência em medicina personalizada, onde ciência de ponta, escuta qualificada e visão humana se integram. Com uma equipe multidisciplinar, coordenada pela Dra Vânia Assaly, unimos genômica, nutrição, medicina preventiva e práticas baseadas em evidências para criar estratégias únicas para cada fase da vida. Aqui, cada detalhe importa. Se você busca um cuidado que respeita sua história, sua biologia e seu futuro, agende uma consulta com nossa equipe. O caminho da longevidade começa com escolhas feitas hoje e podemos criar uma jornada de saúde tão única quanto você.
PALAVRA DA ESPECIALISTA
Ela cuida de todos. Mas quem cuida do cérebro dela?

Pesquisas recentes revelam um dado intrigante sobre saúde e longevidade feminina. Mulheres vivem mais do que homens na maior parte do mundo, mantêm melhor desempenho em habilidades verbais por mais tempo e demonstram maior resiliência cognitiva na meia idade. Ao mesmo tempo, são justamente as que apresentam taxas mais altas de estresse contínuo, ansiedade, depressão e maior risco de doenças cardiovasculares associadas à sobrecarga psicológica.
Um estudo brasileiro mostrou que altos níveis de estresse percebido aumentam de forma significativa o risco cardíaco entre mulheres adultas.
Essa combinação, que envolve maior longevidade biológica convivendo com maior vulnerabilidade mental e cardiovascular, tem despertado interesse crescente na comunidade científica. Uma das explicações mais discutidas envolve o conceito de carga mental, entendido como a soma de tarefas, decisões, lembretes, preocupações e responsabilidades invisíveis que se acumulam ao longo dos anos.
O peso que se acumula silenciosamente
Independentemente da profissão ou do estilo de vida, muitas mulheres descrevem um padrão mental parecido. Elas acompanham demandas do trabalho, gerenciam a própria vida, sustentam relações pessoais, prestam assistência emocional, orientam familiares, organizam tarefas da casa e antecipam problemas. Tudo isso enquanto mantêm alto desempenho nas funções formais.
Essa gestão paralela parece discreta no cotidiano, mas seu impacto fisiológico é profundo. O estresse psicológico contínuo ativa sistemas hormonais e inflamatórios que, mantidos ao longo do tempo, aceleram o desgaste físico e cognitivo. Esse fenômeno já é reconhecido como fator de risco importante para doenças do coração, especialmente entre mulheres.
Pesquisas internacionais mostram que mulheres envolvidas no cuidado prolongado de familiares, principalmente idosos com dificuldades cognitivas, apresentam maior risco de doença coronariana em acompanhamentos extensos.
Outro trabalho identificou alterações em marcadores cardiometabólicos diretamente associadas ao estresse contínuo do cuidado.
E não se trata apenas de mulheres de meia idade. Em grupos mais jovens, o estresse de cuidar de familiares já foi relacionado ao aumento precoce da pressão arterial.
Quando a exaustão mental se transforma em exaustão física
A sobrecarga psicológica também afeta de forma direta a saúde emocional das mulheres. Elas têm maior prevalência de depressão e ansiedade e, quando esses fatores se somam ao estresse contínuo, o ciclo se intensifica. Isso se manifesta em pior qualidade do sono, menor energia, queda na motivação e redução da atividade física, o que acelera o desgaste fisiológico.
Um estudo publicado em 2025 mostrou que mulheres com altos níveis de estresse apresentaram pior função física, menor atividade diária e menor qualidade de vida, fatores diretamente associados ao envelhecimento acelerado.
Esse conjunto de evidências reforça um ponto essencial. Longevidade saudável não significa apenas viver mais. Significa viver com clareza, autonomia e vitalidade emocional ao longo dos anos.
O que protege o coração, o cérebro e a saúde da mulher
A boa notícia é que longevidade é uma construção diária e depende de escolhas emocionais, comportamentais e sociais tanto quanto de fatores biológicos.
Entre os fatores mais protetores estão:
1. Limites emocionais consistentes
Estabelecer fronteiras preserva energia mental e reduz a ativação contínua do estresse.
2. Redistribuição da carga mental
Dividir responsabilidades, delegar tarefas e abandonar o papel de centro de solução do cotidiano é essencial para a saúde.
3. Movimento constante
Exercício físico regula os processos inflamatórios, protege o coração, melhora o humor e fortalece a capacidade cognitiva.
4. Sono de qualidade
Dormir bem equilibra hormônios, estabiliza emoções e favorece a clareza mental.
5. Apoio profissional
Psicoterapia, grupos terapêuticos e oficinas psicológicas ajudam a reorganizar prioridades e fortalecer a autoconsciência.
Longevidade não é um ato de heroísmo individual. É uma construção consciente apoiada por estratégias internas e externas.
Carga mental: um exercício de autochecagem
Antes de encerrar a leitura, vale uma pausa breve para observar sua própria carga mental. Três perguntas podem ajudar:
Quantas decisões você tomou hoje que não eram realmente suas e quanto isso afetou sua energia.
O que você tem adiado por falta de tempo ou clareza e o que isso revela sobre suas prioridades reais.
Se você parasse completamente por dois dias, quantos sistemas ao seu redor deixariam de funcionar.
Essas perguntas não são um julgamento, mas um convite à consciência. Reconhecer a sobrecarga é o primeiro passo para construir uma longevidade baseada em equilíbrio, apoio e escolhas sustentáveis ao longo do tempo.
A SAÚDE DA MENTE
A corrida contra o esquecimento

Imagine que seu cérebro é como uma conta de aposentadoria. Todos nós sabemos que precisamos “investir” nele para garantir um futuro seguro, mas a grande dúvida sempre foi: quando esses depósitos realmente importam? Devemos começar aos 20 anos? Ou será que aos 60 ainda dá tempo?
Um novo estudo, publicado agora final de 2025, mergulhou nos dados do lendário Framingham Heart Study, um dos projetos médicos mais importantes da história, que acompanha famílias inteiras há gerações, para responder a essa pergunta. Os pesquisadores seguiram milhares de adultos durante décadas, dividindo-os em três fases da vida: jovens adultos (26 a 44 anos), meia-idade (45 a 64 anos) e idosos (65 a 88 anos).
A descoberta surpreendente
A narrativa que emergiu dos dados tem uma reviravolta interessante. Ao contrário do que muitos imaginavam, a atividade física realizada no início da vida adulta (aquela academia que você fez ou deixou de fazer aos 30 anos) não mostrou associação direta com a redução do risco de demência décadas depois.
Mas quando olhamos para a meia-idade, o cenário muda completamente. Este se revelou o “período de ouro”. Pessoas entre 45 e 64 anos que mantiveram níveis moderados a altos de atividade física viram seu risco de demência cair em torno de 40%. É como se, nessa fase da vida, o exercício deixasse de ser apenas um hábito saudável e se tornasse uma verdadeira “blindagem” neurológica.
Nunca é tarde demais
E para quem já passou dos 65? A notícia é excelente. O estudo mostrou que manter-se ativo na terceira idade é tão poderoso quanto na meia-idade, reduzindo o risco de demência em até 45%. Mesmo para quem carrega o gene de risco para Alzheimer (APOE ε4), o exercício nos 65+ funcionou ainda mais como um fator de proteção relevante, chegando a incríveis 66% no grupo mais ativo. Aliás, já falamos aqui da Judy Benjamim, que com 80 anos atravessou os Estados Unidos a pé para chamar atenção para o tratamento do Alzheimer.
A conclusão do estudo tranquiliza. Se você foi sedentário na juventude, não “perdeu o bonde”. A janela mais crítica para proteger sua mente começa justamente quando a vida fica mais corrida: a meia-idade. E, lembrando, isso não é desculpa para adiar caso você ainda seja jovem. Assim como plantar uma árvore, o melhor momento para começar foi há 20 anos. O segundo melhor é hoje.
NOTÍCIAS
O que mais está acontecendo?
💡 A OMS publicou suas primeiras diretrizes globais para o manejo do diabetes na gravidez, condição que afeta cerca de 1 em cada 6 gestantes. As novas recomendações incluem metas de glicemia, orientações sobre exercício e dieta e protocolos específicos para diabetes tipo 1, tipo 2 e gestacional. Segundo a OMS, integrar esse cuidado ao pré-natal é essencial para prevenir complicações graves para mãe e bebê.
💡 O FDA propôs mudanças importantes nos rótulos das terapias hormonais para menopausa, retirando dos avisos de segurança afirmações sobre risco aumentado de doenças cardiovasculares, câncer de mama e provável demência. A agência afirma que os alertas do antigo estudo Iniciativa de Saúde da Mulher (WHI), feito com mulheres mais velhas, não refletem o perfil das mulheres que hoje iniciam a terapia hormonal para menopausa (THM). A revisão busca esclarecer riscos reais e reduzir a subutilização desse tratamento.
💡 O FDA aprovou o primeiro exame de sangue para Alzheimer destinado ao uso na atenção primária, desenvolvido pela Roche. O teste identifica níveis de p-tau181 para descartar doença em pessoas com comprometimento cognitivo leve, mas especialistas alertam que sua utilidade é limitada: o valor preditivo positivo é baixo e um resultado positivo exige confirmação com PET ou punção lombar. Segundo o próprio JAMA, médicos de família ainda carecem de diretrizes claras para interpretar esses testes.
💡 Um estudo publicado na Nature analisou o DNA de 1.364 tumores de mama, criando o maior mapa genético clínico já feito para a doença. Os pesquisadores mostraram que algumas alterações no DNA surgem décadas antes do diagnóstico e identificaram padrões que ajudam a prever quais pacientes tendem a responder melhor a certos tratamentos, como terapias-alvo para câncer de mama mais avançado.
💡 A plataforma de saúde Hims & Hers anunciou a compra da YourBio Health, empresa que desenvolveu um dispositivo de coleta de sangue praticamente indolor baseado em microagulhas mais finas que um fio de cabelo. A tecnologia permite coletar amostras de qualquer lugar, sem agulhas tradicionais ou dor, o que pode transformar exames de rotina e ampliar o acesso a testes laboratoriais. A aquisição deve ser concluída em 2026.
VALE SABER
“Existe um equívoco comum de que a ciência é uma atividade impessoal, desapaixonada e completamente objetiva. Enquanto a maioria das outras atividades humanas é dominada por modas, tendências e personalidades, a ciência seria guiada por regras de procedimento acordadas e testes rigorosos. O que importa são os resultados, não as pessoas que os produzem.
Isso é, naturalmente, um completo absurdo.
A ciência é uma atividade conduzida por pessoas, como qualquer empreendimento humano, e igualmente sujeita a modas e caprichos. Nesse caso, a moda não é definida tanto pela escolha dos temas estudados, mas pela forma como os cientistas pensam sobre o mundo. Cada época adota sua abordagem particular para os problemas científicos, geralmente seguindo o caminho aberto por certas figuras dominantes que definem tanto a agenda quanto os métodos considerados mais eficazes para enfrentá-la.”
— Fonte: Six Easy Pieces - Richard Feynman
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