JUNTO COM

Bom dia. Semana de muitas novidades no campo da longevidade e debates intensos. Essa semana está acontecendo em Copenhague o ARDD, um dos mais importantes eventos globais da ciência da longevidade. Muitos brasileiros foram e nas próximas semanas teremos um enxurrada de discussões. Acompanhe esse perfil no X, pois tem muito conteúdo do evento sendo compartilhado ao vivo.

🔎 RESUMO DA EDIÇÃO DE HOJE (TL;DR)

🏡 Ambientes — Você não “falha em hábitos”, muitas vezes seu ambiente empurra na direção oposta. Você repara nos seus ambientes? Mostramos as 4 camadas (físico, social, psicológico, digital) inclusive o conceito de ambiente “gentil” vs. “perverso”.

🧬 Ômicas (Dr. Ricardo di Lazzaro) — Do DNA na saliva aos relógios epigenéticos e à biópsia líquida: integrar camadas biológicas já muda conduta. Personalização com pé no chão: ciência promissora, mas ainda em validação populacional.

🔎 Curiosidade — Não é só entretenimento: é motor de sentido e proteção da mente. Siga o que te intriga, tem algo aí. 😉

💡 Notícias da semana — OpenAI + Retro: >50× em reprogramação (ainda sem pré-print; ficar de olho). Menopausa: Andrea Maier explica por que acelera mecanismos de envelhecimento. NFX: tese Women’s Health 2.0 e oportunidades além de fertilidade. Superpower corta preço para US$ 199 (de 499). Twin Health capta US$ 53 mi; quase unicórnio, expande o conceito de “gêmeo digital”.

📚 Vale Saber — Feynman lembra: existe uma infinidade de fenômenos complexos, mas que podem ser rastreado até regras simples. O importante é fazer a pergunta certa.

ONDE VOCÊ ESTÁ?

Repensando os ambientes da vida

Por que, quando você entra numa biblioteca, começa a falar baixo? E por que, ao entrar num lugar limpo e organizado, tende a manter tudo assim?

Continuamos sendo a mesma pessoa, mas nos comportamos de modo diferente em “locais” diferentes. O que muda é o ambiente. E esse é um dos assuntos mais fascinantes que tenho estudado.

Ao estudar as teorias dos hábitos para o texto que escrevi, acabei assistindo a uma conversa recente do Charles Duhigg com o Peter Attia. Uma das perguntas finais foi: “O que mudou nas teorias de hábitos nos últimos anos? Você mudaria algo no seu livro?”. Embora muita coisa faça parte da psicologia humana e não mude (ex: o ciclo gatilho → rotina → hábito), o próprio Duhigg comenta que o estudo sobre como o ambiente afeta a vida das pessoas evoluiu muito e que, se reescrevesse o livro, provavelmente incluiria um capítulo só sobre isso.

Que o ambiente influencia não é novidade. Um dos estudos que mais impressionou foi o Rat Park, feito na década de 1970. Ratos em ambientes isolados consumiam até 20 vezes mais morfina do que aqueles no “Rat Park” (um ambiente enriquecido, com socialização, atividades e estímulos).

Essa descoberta desafiou a noção de que certas substâncias são irresistivelmente viciantes, mostrando que o contexto pode ser mais determinante do que as propriedades farmacológicas das drogas. Em um lugar bom de viver, os animais escolhiam a água sem morfina, em isolamento, consumiam até a exaustão. Parece óbvio.

Lembra do que falamos no texto sobre hábitos? Quer parar de tomar refrigerante? Não compre e tire da sua casa. Quer aumentar o consumo de alimentos saudáveis? Deixe visíveis e prontos para uso. Iluminação, organização, cheiros, circulação de ar — tudo isso também influencia.

Hoje, porém, “ambiente” vai além do físico. No mínimo, podemos falar em quatro camadas:

  1. Ambiente físico

  2. Ambiente social/cultural

  3. Ambiente psicológico

  4. Ambiente digital

Reflita sobre cada uma. Você é uma pessoa diferente não só quando o espaço muda, mas também conforme quem está ao seu lado, como seu estado interno é influenciado e, mais recentemente, como é o seu ambiente digital.

Sendo totalmente transparente com você (já que este espaço é regido pela ciência): essa classificação acima tem base parcial no tripé de Kurt Lewin (físico, sociocultural, psicológico). Mas como Kurt escreveu sobre isso nos anos 1930, bem antes da internet, a ciência só agora tem olhado de forma mais sistemática para o ambiente digital. Por isso, aqui assumo uma opinião pessoal ao tratar o digital como camada extra, pois, a meu ver, somos pessoas diferentes no online. Fique à vontade para discordar.

De todo modo, independentemente de taxonomias, é óbvio que somos influenciados pelo meio. Prestar atenção aos ambientes onde estamos pode ser a diferença entre viver ou não uma vida longa e boa. Nada muito diferente do que as Blue Zones e a história de Roseto já ensinaram.

A escolha consciente de ambientes

Esse tema ajudou inclusive a pacificar um aparente paradoxo entre Kahneman (heurísticas e vieses) e Gary Klein (tomada de decisão naturalística). Por um lado, Klein mostrou que a intuição de, por exemplo, jogadores de xadrez e bombeiros melhora com experiência. Por outro, Kahneman mostrou que, no pensamento rápido, muitas vezes erramos. Então quem tem razão? Aparentemente os dois.

Um artigo importante, escrito em conjunto pelos dois, concluiu em 2009 que o que diferencia os cenários é o tipo de ambiente (conceito de Robin Hogarth). Em um ambiente benigno (previsível, com padrões estáveis e feedback rápido), a experiência melhora muito a decisão. Em um ambiente perverso (regras que mudam, padrões pouco repetitivos e feedback tardio), a mesma confiança pode enganar.

Não há dúvidas de que onde estamos, com quem estamos e de que forma influencia enormemente nossa vida. Paul Graham escreveu sobre isso em “Por que Hubs de Startups Funcionam”. Então, te convido a refletir: os ambientes em que você passa a maior parte do tempo potencializam sua vida? Você deveria estar neles hoje? Lembre-se: não é só o físico. Mudar o ambiente também é se aproximar, se afastar ou repensar a relação com pessoas — e ainda considerar o aspecto psicológico e o digital.

Não tenho dúvidas de que um bom modelo mental seja pensar a vida também em termos de ambientes. Talvez seja hora de redesenhar os nossos ambientes, fazendo uma escolha consciente de “onde” devemos estar para termos uma vida mais longa e principalmente melhor. Isso também é ser protagonista da própria saúde.

UM CONTEÚDO DO INSTITUTO ASSALY

Personalização para uma vida melhor

No Instituto Assaly, acreditamos que longevidade é viver mais, é viver melhor, com autonomia, clareza e saúde integral. Somos um centro de excelência em medicina personalizada, onde ciência de ponta, escuta qualificada e visão humana se integram. Com uma equipe multidisciplinar, coordenada pela Dra Vânia Assaly, unimos genômica, nutrição, medicina preventiva e práticas baseadas em evidências para criar estratégias únicas para cada fase da vida. Aqui, cada detalhe importa. Se você busca um cuidado que respeita sua história, sua biologia e seu futuro, agende uma consulta com nossa equipe. O caminho da longevidade começa com escolhas feitas hoje e podemos criar uma jornada de saúde tão única quanto você.

PALAVRA DO ESPECIALISTA

As Ômicas na Revolução da Longevidade Personalizada

Imagine um check-up diferente: o médico começa olhando sua propensão genética para dezenas de doenças — variações espalhadas pelo genoma que aumentam (ou reduzem) seu risco. Em seguida, ele pesquisa segmentos de DNA com padrão tumoral circulando no seu sangue: um sinal precoce de que um pequeno tumor pode estar surgindo em algum órgão, o que pode antecipar uma endoscopia ou outro exame localizado e, assim, aumentar muito as chances de detectar um câncer em fase inicial. Depois, abre sua análise epigenética e vê que seu ritmo de envelhecimento está desacelerado (ótima notícia), mas que a idade biológica do seu sistema musculoesquelético parece cinco anos “mais velha” que sua idade cronológica. A implicação prática é direta: começar musculação para preservar função e mobilidade. Relatórios de metaboloma, transcriptoma, proteoma e microbioma completam o quadro e podem motivar mudanças na dieta, a introdução de um suplemento específico ou até a consideração de um medicamento em dose não usual, sempre com foco em prevenir uma condição crônica antes que ela apareça. Ao contrário do tom futurista, todos os exames descritos já existem e estão disponíveis hoje.

O que são “ômicas”

As ciências ômicas mapeiam, em larga escala, diferentes camadas biológicas: genômica (DNA), epigenômica (marcas que regulam genes), transcriptômica (RNAs), proteômica (proteínas), metabolômica (metabólitos), microbioma (comunidade microbiana) e outras. Cada ômica oferece uma lente distinta sobre a saúde — de predisposições herdadas a sinais dinâmicos de estresse e envelhecimento. Integradas, permitem diagnósticos mais precoces, estratificação de risco personalizada e avaliação objetiva do efeito de intervenções ao longo do tempo.

Como fundador da Genera, há 15 anos, acompanhei de perto essa evolução. Hoje, por um teste genético de menos de mil reais pela saliva, conseguimos estimar o risco para dezenas de doenças. No meu caso pessoal, por exemplo, identifiquei um risco genético aumentado para doença celíaca, uma intolerância grave ao glúten. Considerando as mais de 500 mil pessoas que já fizeram o teste da Genera e toda informação laboratorial que temos na Dasa, sabemos que aproximadamente 4% das pessoas com risco semelhante ao meu desenvolveram doença celíaca, contra praticamente 0% entre quem tem risco médio ou baixo. Essa informação me levou a reduzir a ingestão de glúten e a monitorar sintomas de forma proativa — uma mudança de comportamento concreta nascida da genômica.

A epigenética

Saindo da genética para a epigenética, os testes que estimam “idade biológica” (relógios epigenéticos) viraram ferramenta central na pesquisa científica e, mais recentemente, começaram a migrar para a prática clínica. Diferentes algoritmos conseguem estimar a idade de organismos, órgãos, o ritmo de envelhecimento e quanto tempo a mais temos de vida. No meu caso, meu DunedinPACE mostrou uma desaceleração de 20% no meu ritmo de envelhecimento, ou seja, estou “envelhecendo 9 meses por ano”. O teste da minha esposa, que tem hábitos muito semelhantes aos meus, mas corre meia maratona, apresentou 36% de redução — um dado que motiva ajustar hábitos (ela me incentivou a correr!). Acompanhamentos assim, considerando as limitações de uma ciência emergente, ajudam a avaliar intervenções de estilo de vida e tratamentos em busca de mais anos com saúde.

A biópsia líquida é um bom centro para entender a multiômica aplicada à longevidade: a análise de DNA, exossomos, RNAs e proteínas circulantes em nosso sangue permite detectar doenças silenciosas, monitorar respostas terapêuticas e orientar intervenções precoces. Juntamente com metaboloma, proteoma, lipidoma, imunômica e microbioma, formamos um ecossistema de dados que converte sinais moleculares em ações clínicas concretas — prevenção ativa, rastreios individuais e recomendações personalizadas.

Toda essa revolução no cuidado à saúde está no seu início. Ainda temos muito que medir e comprovar o impacto positivo em escala populacional. Mas os sinais indicam que estamos caminhando para a medicina P4 (preventiva, preditiva, personalizada e participativa), em que cuidamos da saúde antes da doença, aplicamos intervenções individualizadas e colocamos o indivíduo no centro das decisões. Isso não é ficção científica: é o presente avançando rapidamente para um cuidado mais inteligente e eficaz.

ACHANDO A DIREÇÃO

Siga sua curiosidade

Talvez a curiosidade seja uma das forças mais poderosas do mundo. Pense nisso. Hoje, grande parte do conteúdo em vídeo foca em colocar, nos primeiros 3 segundos, algo inesperado ou intrigante que gere curiosidade para você continuar assistindo.

Quando contamos uma história, existe a curiosidade de saber como termina. Se o final é óbvio, geralmente nos decepcionamos. Sem curiosidade, não haveria evolução do conhecimento. No fundo, o cientista é um curioso irremediável.

Mas por que a curiosidade é importante para você? E por que devemos nos preocupar com ela?

Na primeira derivada, olhando para longevidade, curiosidade alta aumenta sua vontade de aprender, o que faz sua reserva cognitiva crescer e, consequentemente, te protege do declínio cognitivo associado à idade avançada.

Ótimo. Mas curiosidade é mais do que isso. Se tudo o que fazemos é apenas pelo benefício de saúde, acabamos perdendo a beleza oculta que a atividade em si nos proporciona.

Se buscamos os pilares da felicidade (assunto para outro dia), trabalhar com algo que nos dê sentido é uma das coisas mais importantes da vida. É tão importante que o próprio Salomão escreve que não há nada melhor do que o prazer no trabalho, entre outras coisas.

Então fica uma dúvida: como buscar essa realização pessoal?

Paul Graham, em um dos seus, na minha opinião, melhores artigos, diz que, para chegar ao “great work” (o tipo de trabalho do qual você se orgulha), você precisa essencialmente de duas coisas:

  1. Escolher um tipo de trabalho para o qual você tem aptidão.

  2. Escolher um tipo de trabalho pelo qual você tem interesse natural, ou seja, curiosidade.

Ele escreve:

“Há um tipo de curiosidade entusiasmada que é ao mesmo tempo o motor e o leme de um grande trabalho. Ela não só vai impulsionar você como, se você deixá-la ditar o rumo, também mostrará no que trabalhar.

Sobre o que você tem curiosidade exagerada (num grau que entediaria a maioria das pessoas)? É isso que você está buscando.”

Portanto, se uma das prerrogativas para sermos felizes é ter um trabalho ou ocupação que nos traga sentido, e isso é alimentado por uma curiosidade irresistível, por que não escutar essa voz interna?

Todos nascemos curiosos. Desde cedo perguntamos “Por quê?”. É só lembrar de uma criança de quatro anos. Aproveite a IA: você consegue pesquisar quase qualquer coisa que te interesse. Se você silenciar as interferências e deixar sua mente se voltar para o que naturalmente chama sua atenção, verá que é aí que provavelmente vai encontrar propósito, felicidade e, como consequência, longevidade.

NOTÍCIAS

O que mais está acontecendo?

💡OpenAI e Retro Biosciences criaram o modelo GPT-4b micro e, em laboratório, redesenharam proteínas usadas na reprogramação celular. As variantes geraram >50× mais sinais de conversão e menos sinais de dano no DNA. Se replicado por equipes independentes, pode acelerar a criação de células-tronco capazes de virar qualquer tecido e aproximar terapias regenerativas da prática clínica. O que precisa ficar atento é que eles não compartilharam nem o pré-print, então ficamos no aguardo das evidências. 

💡 Menopausa e envelhecimento acelerado. Para a Dra. Andrea Maier, a menopausa é um ponto de transição que acelera mecanismos de envelhecimento (inflamação, estresse oxidativo, resistência à insulina). O texto traz medidas práticas (sono, treino, nutrição) e discute terapia hormonal.

💡 NFX publica a tese “Women’s Health 2.0: Beyond Fertility”. Ponto central: só 2% do capital de risco vai para condições específicas das mulheres; isso está mudando. Com inteligência artificial, análises moleculares em larga escala e testes com tecidos humanos em laboratório, a inovação migra para biotecnologia e novos remédios. Oportunidades: síndrome dos ovários policísticos, endometriose, depressão pós-parto e menopausa. Mercado projeta US$ 66 bilhões até 2030.

💡 Superpower corta preço: o plano anual caiu para US$ 199 (antes US$ 499). O serviço inclui um exame de sangue com 100+ biomarcadores, análise por IA e suporte clínico no app — ideia é levar cuidado preventivo “concierge” ao público amplo. Integra dados de wearables e pode pressionar rivais a rever preços.

💡 Twin Health levanta US$ 53 milhões (série E) e é quase um unicórnio. A empresa usa um “gêmeo digital” (um modelo do seu corpo feito com dados de wearables e exames) para orientar alimentação, sono e atividade, visando prevenir e reverter diabetes tipo 2 e obesidade. O aporte, liderado pela dinamarquesa Maj Invest, mira expansão com planos de saúde e empregadores.

VALE SABER

“O mundo é estranho. Todo o universo é muito estranho, mas você vê, quando olha para os detalhes, que as regras do jogo são muito simples — as regras mecânicas pelas quais você pode descobrir exatamente o que vai acontecer quando a situação é simples. É como um jogo de xadrez. Se você está em um canto com apenas algumas peças envolvidas, você pode determinar exatamente o que vai acontecer, e você sempre pode fazer isso quando há apenas algumas peças. E, no entanto, no jogo real há tantas peças que você não consegue descobrir o que vai acontecer — então há uma espécie de hierarquia de diferentes complexidades. É difícil de acreditar. É incrível!

Há tanta coisa no mundo. Há tanta distância entre as regras fundamentais e os fenômenos finais que é quase inacreditável que a variedade final de fenômenos possa advir de um funcionamento tão constante de regras tão simples.”

— Fonte: Richard Feynman

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