Qual é o seu plano?

Uma reflexão da importância de sermos os protagonistas da própria saúde

Buenos. Hoje batemos a marca de 25 edições publicadas, ou seja, 75 artigos densos sobre como viver mais e melhor e muitas notícias.

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🔎 RESUMO DA EDIÇÃO DE HOJE (TL;DR)

🔭 Qual é o plano? Você já se perguntou qual é o plano para a sua saúde? Uma reflexão sobre a importância do protagonismo pessoal em um mercado marcado por incentivos ruins.

🧪 Quando seu sistema imune se torna um exame. Uma nova IA consegue identificar até seis doenças com um único teste de sangue, analisando a “memória imunológica” do corpo. O que isso revela sobre o futuro da medicina?

💊 O risco invisível do ômega-3. Ter níveis baixos de ômega-3 pode reduzir sua expectativa de vida tanto quanto fumar. Essa foi a conclusão de um dos estudos mais respeitados do mundo. Um alerta para quem ainda vê ômega-3 como algo opcional.

💡 Notícias da semana. FDA aprova primeiro exame de sangue para Alzheimer. Estudo da VITAL mostra que vitamina D ajuda a preservar telômeros. Midi Health lança programa de longevidade para mulheres. Artigo do Guardian propõe um novo contrato social para uma vida até os 100. Strava levanta nova rodada e chega a US$ 2,2 bilhões.

📚 Vale Saber. Às vezes, as maiores revoluções surgem de lugares improváveis. Foi o que aconteceu no século XIX, quando a descoberta de que o solo está vivo lançou as bases tanto para os antibióticos quanto para a agricultura moderna.

SUA VIDA

Qual é o plano?

Quando você ganha acesso a um plano de saúde, já se perguntou: qual é o plano?

Fiquei pensando nisso. Esse nome — plano de saúde — ao pé da letra, deveria ser interpretado como um planejamento feito para você, com o objetivo de te mostrar como manter sua saúde no melhor estado possível, pelo maior tempo possível. Concorda?

Raro, né?

Normalmente, não recebemos nem uma mensagem de boas-vindas explicando os pilares de como viver mais e melhor, muito menos um caminho claro de como começar.

Por isso, a verdade é que o verdadeiro plano para a sua saúde depende, em primeiro lugar, de você. Grande parte dos pilares que realmente impactam sua saúde exige mudança de comportamento. Como:

  • Exercício físico

  • Sono de qualidade

  • Evitar comer coisa errada

  • Comer as coisas certas

  • Suplementar quando necessário

E por aí vai.

Com várias exceções, nosso plano de saúde, via de regra, funciona quase como um “airbag” em caso de algum acidente de percurso — o que, sim, é importante. Mas, se você quiser se cuidar de verdade, precisa buscar um médico, um nutricionista, um psicólogo e outros e montar uma rede que te apoie.

Existe um movimento, ainda pequeno, de algumas dessas empresas começando a entender essa necessidade e mudando de postura. Mas a maioria ainda está longe do ideal.

Um dado recente da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) mostra que, em 2024, as operadoras de planos de saúde investiram apenas 0,25% do faturamento em ações de prevenção. O menor valor desde 2018.

Uma das razões, apontada em uma matéria sobre esse tema, é que, na média, uma operadora perde um terço dos seus clientes por ano. E não é culpa direta delas. É uma consequência dos incentivos que o sistema criou.

É claro que essa é a média. Existem operadoras ótimas, que, por geografia, modelo e relacionamento, conseguem construir uma relação de longo prazo com seus clientes.

No entanto, a mesma matéria traz um dado que me chamou muita atenção. A Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde) aponta que um dos gargalos para investimento em prevenção é que “muitas vezes os pacientes demonstram desinteresse ou não mantêm participação contínua nos programas.”

Adoraria que você, que está lendo isso agora, ajudasse a provar que as pessoas sim têm interesse em se cuidar.

Quando perguntei aqui na Longevidade News, alguns meses atrás, se as pessoas se sentiam bem cuidadas, mesmo muitas tendo acesso aos melhores laboratórios, médicos e hospitais, 83% responderam que não.

Por isso, independente desse cenário — sem apontar dedo, porque é um problema complexo e sistêmico —, a verdade é que você, eu, sua família, seus amigos e conhecidos só vamos conseguir ter uma vida longa e de qualidade se entendermos que o começo dessa jornada do herói/heroína que você está seguindo depende de um primeiro passo.

E esse passo é 100% seu.

Por isso, eu te pergunto: qual é o seu plano?

CIÊNCIA

Quando seu sistema imune se torna um exame

É impressionante a quantidade de pessoas que eu conheço que ficaram gripadas nas últimas semanas. E esse movimento — que é comum, ano após ano, e que atrapalha muito a nossa vida — tem tudo a ver com uma evolução relevante acontecendo na medicina.

No início deste ano, um estudo publicado na Science mostrou que é possível transformar a “memória” do sistema imunológico em um teste diagnóstico, usando inteligência artificial.

Como funciona?

Seu sangue contém células B e T que carregam o histórico de tudo o que seu sistema imune já enfrentou, de infecções a vacinas e, em alguns casos, sinais precoces de doenças autoimunes.

Essas células possuem receptores únicos — os chamados BCR e TCR — que funcionam como um código de barras molecular, criado sob medida para reconhecer ameaças específicas.

O problema? Cada pessoa tem bilhões de combinações diferentes desses receptores. Ler isso sempre foi praticamente impossível, mas aí veio a IA.

Três modelos trabalhando juntos:

  • Um “contador de genes”, que observa padrões gerais de como os genes do sistema imune estão organizados.

  • Um “caçador de clones”, que identifica grupos de células que criaram receptores quase idênticos. Sinal claro de uma resposta imune ativa.

  • E o mais sofisticado, um “tradutor de proteínas”. Como um ChatGPT biológico, treinado em 65 milhões de proteínas, capaz de interpretar padrões complexos nas sequências desses receptores, mesmo sem nunca ter visto antes.

O que o estudo mostrou na prática:

  • O sistema analisou dados de 593 pessoas, com Covid, HIV, lúpus, diabetes tipo 1, vacinados contra influenza (coletados exatamente 7 dias após a vacinação, quando a resposta imune está no pico) e controles saudáveis.

  • Acurácia de 85,3% na distinção entre seis condições simultâneas — um desafio de classificação multiclasse, muito mais complexo que modelos binários tradicionais.

  • AUROC de 0,986, um índice que mede a capacidade do modelo de distinguir corretamente quem tem ou não uma determinada doença — quanto mais próximo de 1, melhor (1 seria perfeito).

  • Para algumas condições, como lúpus, isso representa um avanço enorme: os testes atuais podem ter até 30% de falsos positivos.

  • Pacientes com lúpus em tratamento foram mais difíceis de classificar, mostrando que o sistema ainda precisa de ajustes para contextos clínicos mais complexos, como diferentes estágios da doença ou efeito de medicações imunossupressoras.

Por que isso é relevante

  • Doenças autoimunes, que hoje levam anos para serem diagnosticadas, poderão ser identificadas em semanas.

  • Infecções crônicas, como HIV ou até sinais pós-Covid, podem ser detectadas mesmo sem sintomas aparentes.

  • Vacinas e terapias poderão ser ajustadas de acordo com a resposta única do seu sistema imune.

Se hoje você faz exames como colesterol, hemoglobina glicada ou creatinina, em um futuro (espero que próximo) você poderá incluir no seu check-up mais um item no seu arsenal: um mapa imunológico completo.

Ainda temos um caminho pela frente com mais estudos clínicos amplos antes de chegar à prática, mas a promessa é grande.

NUTRIÇÃO

Baixo ômega-3 e o risco à sua longevidade

E se eu te dissesse que ter baixos níveis de ômega-3 encurta sua vida tanto quanto fumar? Não é uma metáfora. É estatística e às vezes ela desafia o nosso senso comum.

É exatamente isso que mostram os dados do Framingham Offspring Cohort, um dos maiores e mais respeitados estudos populacionais do mundo. Pessoas com níveis baixos de ômega-3 vivem, em média, 4,7 anos a menos. O mesmo impacto de ser fumante.

E não pense que ser deficiente é um problema de poucos. Um estudo de 2021 com jogadores profissionais de basquete mostrou que 98% deles estão abaixo do nível ideal de ômega-3. Mesmo sendo atletas de alta performance, com acesso a nutrição, treinamento e suporte de ponta.

O problema é sorrateiro, mas é um dos mais simples de resolver na prática.

Será que eu tenho deficiência em ômega-3?

Se fosse um problema raro, talvez não valesse tanta atenção. Mas não é.

O maior mapeamento global já feito sobre status de ômega-3, com dados de 342.864 pessoas em 48 países, mostra que a deficiência é a regra, não a exceção.

O dado sobre o Brasil é absurdo: estamos entre os piores do mundo, com um Omega-3 Index médio de 3,44%. Isso significa que a maioria da população vive no nível de risco máximo (<4%). Exatamente a faixa associada ao maior risco de morte, infarto, demência e inflamação crônica.

E o problema não é só aqui:

  • Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, China e Austrália. Todos com médias entre 4% e 6%, abaixo do ideal.

  • O único grupo de países que escapa são os que têm tradição de alto consumo de peixes gordurosos: Japão (9,87%), Coreia do Sul (9,62%), Noruega (8,04%), Islândia (9,16%) e Finlândia (8,18%).

Se nem atletas profissionais de basquete dos Estados Unidos tinham níveis ótimos e você, assim como eu, provavelmente mora no Brasil, a chance de você ser deficiente é bem grande.

O tamanho do risco

Se você acompanha essa newsletter, já viu o ômega-3 aparecer muitas vezes. Falamos sobre sua ação na saúde cerebral, na saúde cardiovascular, no controle da inflamação e até no impacto sobre idade biológica, quando analisamos um estudo que mostrou como a suplementação com ômega-3 foi capaz de desacelerar o envelhecimento medido por relógios epigenéticos e com efeitos ainda maiores quando combinado com vitamina D e exercício físico.

Décadas de pesquisa mostram que a deficiência de EPA e DHA está associada a:

  • Mais risco de morte por todas as causas.

  • Mais risco cardiovascular.

  • Maior risco de demência e declínio cognitivo.

  • Mais inflamação crônica, pior resposta imune e aceleração do envelhecimento biológico.

Seja olhando para a saúde cardiovascular, saúde cerebral ou até envelhecimento biológico, o recado da ciência é claro: não dá para ignorar o ômega-3.

O que fazer

A boa notícia é que esse é, provavelmente, um dos riscos mais simples de resolver na prática.

Para atingir o nível considerado ideal na literatura — um Omega-3 Index acima de 8% —, os dados sugerem que é necessário consumir, na média, entre 1 e 2 gramas diários de EPA+DHA, o que já é atingido com 100g de salmão ou outros peixes mais gordurosos (dependendo do peixe a quantidade varia), algas marinhas ou por suplementação.

E lembre-se: a necessidade exata varia de acordo com dieta, peso e metabolismo individual, por isso é sempre importante consultar seu médico e/ou nutricionista.

NOTÍCIAS

O que mais está acontecendo?

💡 O FDA aprovou o primeiro exame de sangue para ajudar no diagnóstico de Alzheimer. O teste mede proteínas relacionadas à doença e teve 92% de acurácia em comparação a PET scan ou punção lombar. É indicado apenas para pacientes com sintomas cognitivos e não substitui os métodos atuais, mas representa um avanço para diagnósticos menos invasivos.

💡 A expectativa de viver até os 100 anos está deixando de ser exceção e se tornando a regra. Segundo a ONU, o número de centenários deve quadruplicar até 2054. O desafio agora não é só viver mais, mas viver melhor. Isso exige transformar não só o sistema de saúde, mas também o modelo de trabalho, aposentadoria e educação.

💡 Um novo estudo do VITAL Trial mostra que suplementação com vitamina D3 (2.000 UI/dia) ajuda a proteger contra o encurtamento dos telômeros, um marcador de envelhecimento biológico. Ao longo de 4 anos, quem tomou vitamina D teve uma preservação equivalente a quase três anos a menos de envelhecimento celular comparado ao placebo.

💡 A startup Midi Health, focada em menopausa, lançou o AgeWell, uma plataforma de longevidade focada em mulheres. A proposta é oferecer um roadmap de saúde baseado em saúde hormonal, prevenção e bem-estar, com foco em quem quer ser uma “avó saudável”. O programa inclui consultas, exames, testes genéticos opcionais e planos personalizados.

💡 A Strava acaba de captar uma nova rodada de investimento a um valuation de US$ 2,2 bilhões, liderada pela Sequoia Capital. O aporte veio junto da aquisição dos apps Runna (corrida) e The Breakaway (ciclismo). A plataforma, que soma 150 milhões de usuários, foco em IA, dados e expansão global.

VALE SABER

“Qual foi a nova ideia ou tecnologia descoberta no século XIX que teve o maior impacto na expectativa de vida no século XX?

Alguns candidatos óbvios vêm à mente, alguns dos quais já exploramos: a revolução da vigilância e estatística de Farr; o conceito de doenças transmitidas pela água. Mas também é possível argumentar que a ideia mais influente veio de um lugar muito mais surpreendente: a descoberta de que o solo está vivo.

Como chegamos a esse entendimento foi algo complexo, mas ocorreu principalmente em um surto de atividade interdisciplinar nas décadas centrais do século XIX. Cientistas começaram a perceber que o solo não era apenas um monte de rochas moídas, inerte e imutável. Ele tinha um metabolismo. Precisava de insumos energéticos e de gestão de resíduos. Em circunstâncias ideais, podia ter uma fecundidade impressionante; em condições adversas, podia se transformar em pó sem vida. E estava repleto de formas microscópicas de vida, cada uma desempenhando um papel crítico no que hoje chamamos de ciclo do nitrogênio.

A revolução dos antibióticos exigiu várias descobertas fundamentais para que um fungo promissor e enigmático se transformasse em uma bala de prata de alcance global. E uma delas foi, sem dúvida, o desenvolvimento da ciência moderna do solo.

A descoberta de que a “terra” tem um metabolismo complexo teria ainda outro efeito — um pouco mais previsível — sobre a expectativa de vida. Entender que o solo estava vivo nos ajudou a combater infecções, mas também ajudou a combater outra ameaça onipresente: a fome.”

— Fonte: Extra Life - Steven Johnson

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