É bem provável que você já saiba quais hábitos deveria cultivar e quais deveria deixar de lado.
Vamos pegar a leitura como exemplo. Em um mundo cada vez mais raso, ler continua sendo uma das formas mais poderosas de expandir ideias e desenvolver o pensamento crítico. Todo mundo reconhece isso. Mas quase ninguém lê de verdade.
Então como mudar?
Tem uma frase do Naval Ravikant que já comentei aqui e que, pra mim, resume uma sabedoria enorme:
“Leia o que você ama até que você ame ler.”
E no caso do exercício físico, a lógica é exatamente a mesma.
Agora, inclusive, a ciência vem comprovando que esse caminho funciona.
Porque a lógica sozinha não sustenta comportamento
Campanhas de saúde ainda partem da ideia de que somos racionais. Mostram os benefícios. Informam os riscos. E pronto. Espera-se que a pessoa vá se exercitar.
Mas comportamento não funciona assim. Saber não é suficiente. É preciso querer voltar.
Nos últimos anos, estudos têm mostrado que o prazer sentido durante o exercício pode ser mais determinante para a adesão do que qualquer argumento racional. Pra mim exatamente o mesmo que as teorias da economia comportamental que já provaram há muito tempo que não tomamos decisões racionais.
A nova abordagem: prazer como estratégia
Pesquisadores chamam isso de respostas afetivas. E o mecanismo é simples:
Se o corpo associa exercício a sensações positivas, você volta.
Se associa a dor, desconforto ou vergonha — você evita.
A teoria mais aceita hoje, a Affective-Reflective Theory, explica: decisões sobre manter (ou abandonar) um hábito como o exercício vêm da soma do que pensamos e sentimos, mas o que sentimos vem antes.
O estudo: prazer e consistência na prática
Um estudo publicado em 2024 testou isso.
46 pessoas sedentárias, dois grupos:
Um seguiu treino padrão.
O outro fez o mesmo treino, mas pôde regular a intensidade com base no prazer.
Resultado?
O grupo que regulou a intensidade foi 77% mais vezes à academia nas 8 semanas seguintes.
Relataram mais prazer durante o treino, lembravam melhor da última sessão e antecipavam com mais entusiasmo a próxima.
Importante
O estudo teve limitações: o acompanhamento durou apenas 8 semanas; foi feito em ambiente supervisionado, com treinador; e a amostra foi pequena, composta por adultos jovens e de meia-idade. Ainda assim, a intervenção chama atenção: é simples, barata e aplicável por qualquer profissional. Sem tecnologia, sem fórmula mágica, só um ajuste essencial: respeitar o que o corpo sente.
Mas... e os treinos difíceis?
Eles também importam — e muito. Treinos que desafiam o corpo (como HIIT) envolvem desconforto real, mas eles só funcionam se você aparecer.
Adesão vem antes de progressão.
No começo, o foco deve ser criar vínculo com o hábito. Com o tempo, o corpo se adapta. O prazer muda de forma. E treinos mais intensos entram em cena de outra forma: conquista, superação, foco.
Prazer não é o oposto de esforço. É uma ponte que leva você até ele.
A ciência começa a reconhecer algo que o corpo já sabia: A longevidade não nasce do treino perfeito. Ela nasce da consistência. E a consistência nasce do prazer de voltar.
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