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Uma letra corrigida. Uma vida reescrita.
A primeira edição genética personalizada salvou um bebê. E pode mudar o futuro da saúde

Buenos! Chegou mais uma quinta-feira e muita informação pra você.
Alguma coisa aconteceu, mas parece que muitas das empresas de wearables resolveram lançar suas novas versões nas últimas semanas e com grande foco em longevidade. Impressionante e empolgante, mas não se esqueça, ainda não inventaram um que treina por nós. Então, bora treinar!
🔎 RESUMO DA EDIÇÃO DE HOJE (TL;DR)
💪 A molécula que protege músculos e performance. Dois estudos mostram que a Urolitina A melhora força, resistência e recuperação muscular tanto em sedentários quanto em atletas. Uma intervenção mitocondrial que pode preservar sua autonomia física com o tempo.
🧬 Uma letra corrigida. Uma vida reescrita. O primeiro caso do mundo de uma edição genética personalizada aplicada diretamente no corpo para corrigir uma mutação única. O que isso significa para o futuro da medicina, da longevidade e da inteligência artificial?
⏳ Exercício e o relógio biológico do envelhecimento. Novo estudo de 12 anos revela que manter uma rotina consistente de atividade física, especialmente moderada e vigorosa, está associado a um envelhecimento epigenético mais lento. Literalmente, envelhecer mais devagar por dentro.
💡 Notícias da semana. Americanos estão chegando aos 80 e 90 anos em melhor forma do que gerações anteriores. Investimento em longevidade bate US$ 8,49 bilhões em 2024. Regeneron compra a 23andMe em uma reviravolta estratégica. Harvard e Roche desenvolvem uma IA que prevê quem responde à imunoterapia contra câncer. Eight Sleep lança um sistema de sono que monitora saúde cardiovascular e respiratória com precisão clínica. Garmin apresenta o novo Forerunner 970.
📚 Vale Saber. Você acha que dormiu o suficiente na última semana? Dormir menos de seis horas por noite enfraquece o sistema imunológico, eleva o risco de câncer, Alzheimer, diabetes e doenças cardiovasculares. Distúrbios do sono também agravam quadros de ansiedade, depressão e outros transtornos psiquiátricos. Se você precisava de um motivo para priorizar o sono, aqui está.
SUPLEMENTO
Urolitina: Um composto que você deveria conhecer

Hoje vamos analisar um composto fascinante e ainda pouco conhecido: a Urolitina A.
Ela não vem pronta nos alimentos. É um pós-biótico, ou seja, uma substância produzida pelas bactérias do intestino — o microbioma — a partir de alimentos como romã, nozes e frutas vermelhas.
O que ela faz tem chamado a atenção: melhora a função das mitocôndrias, reduz inflamação e pode influenciar diretamente a força e o desempenho físico.
Mas o mais interessante é que seus efeitos aparecem em contextos muito diferentes. Em adultos sedentários com sobrepeso, ela parece recuperar parte da capacidade muscular. Em atletas jovens e treinados, ajuda na resistência, recuperação e controle do estresse oxidativo.
Mesmo sem ser nova, a Urolitina A ainda está fora do radar da maioria. Mas talvez não por muito tempo.
O que é
A Urolitina A é estudada há anos por seu efeito sobre as mitocôndrias, as estruturas celulares responsáveis por gerar energia. Em especial, ela parece ativar um processo chamado mitofagia, uma espécie de reciclagem interna que elimina mitocôndrias danificadas e ajuda o organismo a preservar aquelas que funcionam bem.
Além disso, estudos em humanos mostram que ela pode modular processos inflamatórios sistêmicos e melhorar a eficiência no uso de energia pelos músculos. Os efeitos variam conforme o contexto, mas a via biológica é comum: restaurar qualidade celular em tecidos que envelhecem, sofrem estresse ou perdem função com o tempo.
Dois contextos, uma mesma direção
Dois estudos clínicos recentes analisaram os efeitos da Urolitina A em públicos bastante distintos e chegaram a conclusões complementares. Ambos foram randomizados, duplo-cegos, controlados por placebo e publicados em revistas científicas de referência: Cell Reports Medicine e Journal of the International Society of Sports Nutrition.
O primeiro avaliou adultos entre 40 e 64 anos, com sobrepeso e baixa atividade física. Após quatro meses de suplementação com 500 mg ou 1000 mg por dia, os participantes tiveram ganhos de força entre 12% e 15% nos isquiotibiais (músculos da parte posterior da coxa). No grupo da dose mais alta, também houve aumento no VO₂ máximo e um avanço de 33 metros no teste de caminhada de seis minutos. Tudo isso sem qualquer programa de exercício físico adicional.
O segundo estudo focou em atletas jovens, treinados em exercícios de força. Em oito semanas, os que tomaram 1000 mg por dia apresentaram melhora na força estática e na resistência muscular durante repetições. Os exames laboratoriais mostraram reduções na proteína C reativa (PCR) e em marcadores de estresse oxidativo, além de uma menor degradação muscular, medida por compostos urinários.
O que chama atenção é a consistência dos efeitos, mesmo com perfis tão diferentes. Em quem está inativo, a Urolitina A parece recuperar função muscular e melhorar a eficiência metabólica. Em quem já treina, contribui para otimizar a recuperação e reduzir o desgaste. O mecanismo biológico de fundo é o mesmo: renovação mitocondrial e modulação da inflamação crônica de baixo grau. Duas vias fundamentais tanto para longevidade quanto para performance.
Os dois estudos mostram que a suplementação com 1 grama por dia de Urolitina A pode trazer benefícios reais para força, desempenho e recuperação muscular, com segurança e bons resultados tanto em quem está começando quanto em quem já treina há anos. Se o tema te interessou, vale levar essa conversa para o seu médico ou nutricionista.
E se ele ainda não conhece, indica essa newsletter pra ele. ;)
GENÉTICA
Uma letra corrigida. Uma vida reescrita.

Quase tudo o que define nossa saúde ao longo da vida vem do que fazemos todos os dias. Dormir, comer, se mover, conviver. É isso que molda os 90% das doenças ligadas ao ambiente em que vivemos, ao que chamamos de exposoma.
Mas há um outro lado da história.
Entre 5% e 6% da população mundial vive com doenças que não foram causadas por hábitos, mas herdadas no nascimento. São mais de dez mil doenças raras já conhecidas, a maioria com origem genética clara. E muitas vezes, com início precoce, sem tratamento eficaz e com impacto profundo na qualidade de vida.
Foi para um desses casos que a ciência escreveu um novo capítulo na semana passada.
O caso do bebê e o CRISPR 2.0
KJ Muldoon nasceu com uma mutação genética rara que o impedia de processar proteína. Em poucos dias, a concentração de amônia em seu sangue subiu a níveis perigosos para o cérebro. Apenas metade dos bebês com essa condição sobrevive até a chance de um transplante de fígado. Ele foi internado antes de completar uma semana de vida.
Foi então que sua equipe médica propôs algo inédito: desenvolver uma terapia genética personalizada, feita sob medida para o seu DNA. Não um tratamento de mercado, não um protocolo padrão. Uma edição genética para um único paciente.
Em seis meses, o time do Children’s Hospital da Filadélfia e da Universidade da Pensilvânia sequenciou o genoma de KJ e de seus pais, identificou a mutação, desenhou uma correção com base na técnica conhecida como base editing, testou o tratamento em modelos celulares, camundongos e primatas, e recebeu autorização para iniciar a aplicação clínica.
O CRISPR tradicional, conhecido como 1.0, funciona como uma tesoura: corta o DNA em dois pontos. Mas a técnica usada aqui é uma evolução. O base editing funciona como um lápis e uma borracha. Em vez de cortar, “apaga” uma letra e escreve outra no lugar certo.
KJ recebeu três doses do tratamento, por infusão intravenosa. Com o tempo, foi reduzindo a necessidade de medicação, passou a tolerar melhor alimentos com proteína e começou a atingir marcos de desenvolvimento que antes pareciam improváveis.
Seus médicos ainda evitam a palavra “cura”. Mas já consideram o caso um marco. Nunca se aplicou, com tanto rigor e em tão pouco tempo, uma terapia genética personalizada in vivo em um ser humano.
O que isso pode significar
A mutação de KJ é uma entre milhares já mapeadas. A maioria delas nunca terá um tratamento aprovado, simplesmente porque são raras demais para atrair pesquisa comercial. Mas a técnica usada no seu caso aponta para um caminho diferente.
Estima-se que cerca de 90% das mutações genéticas causadoras de doenças conhecidas poderiam ser corrigidas com editores de base ou prime editors. São mutações pequenas, de uma ou poucas letras, mas que têm impacto enorme na saúde de quem as carrega.
Hoje, mais de 400 milhões de pessoas vivem com doenças raras em todo o mundo. A maior parte delas tem origem genética. E a maioria não tem alternativa terapêutica disponível.
O que o caso de KJ mostrou não foi apenas que é possível criar uma terapia personalizada. Mostrou que é possível fazê-la com segurança, rapidez e colaboração. Em seis meses, o time que o atendeu partiu do zero e chegou a um tratamento funcional, com resultados clínicos mensuráveis. Isso ainda é caro e complexo. Mas deixou de ser teoria.
IA e o futuro da medicina personalizada
Projetar uma terapia genética personalizada em seis meses exigiu dezenas de cientistas, múltiplas instituições, testes em modelos animais e uma colaboração coordenada entre empresas, reguladores e médicos. Foi um esforço excepcional.
Mas talvez não precise ser assim para sempre.
A inteligência artificial já começa a acelerar a leitura e interpretação do genoma. Com ela, é possível prever mutações, testar virtualmente edições genéticas, simular efeitos colaterais e sugerir correções em escala.
Hoje, corrigir uma letra no DNA ainda exige uma corrida contra o tempo e bastante investimento. Amanhã, com o apoio da IA, pode ser apenas questão de rodar um novo modelo. Se você quiser te uma visão sobre o futuro da IA, veja esse vídeo recente.
CIÊNCIA DO ENVELHECIMENTO
Um novo ritmo para o envelhecimento

Será que os hábitos de exercício que mantemos ao longo dos anos podem alterar a velocidade com que envelhecemos por dentro?
Essa foi a pergunta central de um estudo recente que acompanhou mais de 3.600 adultos entre 2004 e 2016, com idade média de 70 anos. O foco não estava na saúde cardiovascular nem na composição corporal. O que os pesquisadores analisaram foi o impacto de diferentes padrões de atividade física sobre a idade epigenética. Um marcador molecular que reflete como o corpo está envelhecendo no nível celular, a partir da metilação do DNA.
Já explicamos por aqui o que são os relógios epigenéticos. Eles não mudam a sequência do DNA, mas capturam a forma como os genes estão sendo ativados ou silenciados com o tempo. Quando a idade epigenética avança mais rápido do que a idade cronológica, isso é chamado de aceleração epigenética. E costuma estar associado a risco aumentado de doenças crônicas, declínio funcional e mortalidade precoce.
Mas será que dá para influenciar esse ritmo com o exercício?
O peso da consistência
Ao contrário de estudos que analisam um ponto isolado no tempo, esse trabalho acompanhou os participantes durante 12 anos. Identificou padrões de comportamento: quem manteve níveis baixos, quem aumentou, quem reduziu e quem se manteve ativo de forma consistente.
A conclusão foi clara. Participantes com níveis regulares de atividade física moderada e vigorosa ao longo dos anos apresentaram uma idade epigenética mais jovem. Os efeitos apareceram em todos os modelos de relógios biológicos usados, entre eles Horvath, Hannum, PhenoAge, GrimAge, DunedinPoAm e Zhang. E não ficaram restritos a quem já era ativo desde o início. Quem aumentou o ritmo com o tempo também colheu benefícios.
No estudo, atividades leves incluíam tarefas domésticas e caminhadas lentas. As moderadas envolviam mais esforço contínuo, como jardinagem ou caminhada em ritmo acelerado. As vigorosas exigiam intensidade: corrida, natação ou treinos de força. A classificação depende do condicionamento, mas ajuda a entender os dados.
Apesar disso, o método tem limitações. A atividade foi medida por auto-relato, o que reduz a precisão, principalmente no caso das leves. E não houve distinção entre diferentes intensidades dentro da mesma categoria. Uma corrida contínua em zona 2 e um treino em zona 5 foram agrupados como “vigorosos”. São limitações importantes e que indicam a necessidade de estudos mais objetivos, com sensores ou dados fisiológicos contínuos.
Ainda assim, a direção dos achados é consistente. O corpo parece registrar o padrão ao longo dos anos, mesmo quando ele muda para melhor, mais tarde na vida.
O que ainda não sabemos
A ausência de associação entre atividades leves e a idade epigenética não significa que esses movimentos sejam irrelevantes. Pode ser apenas uma limitação do método. É difícil quantificar, com precisão, o tempo gasto varrendo a casa, arrumando coisas ou andando devagar. Ainda mais quando tudo depende da memória de quem responde.
Também é possível que os efeitos existam, mas sejam mais sutis — e por isso escapem das medições atuais. Estudos com acelerômetros e biomarcadores contínuos talvez revelem nuances que hoje não conseguimos enxergar. Ainda estamos aprendendo como o corpo traduz diferentes tipos de esforço em adaptações celulares duradouras.
O que já sabemos, no entanto, é suficiente para agir.
A consistência parece importar mais do que o ponto de partida. E até mudanças tardias no padrão de atividade deixam marcas mensuráveis no tempo biológico. O corpo registra o que fazemos. Mesmo quando a mudança vem depois dos 50.
NOTÍCIAS
O que mais está acontecendo?
💡A Garmin anunciou o novo Forerunner 970, seu relógio topo de linha para corrida e triathlon, agora com tela OLED, detecção de fibrilação atrial via ECG, medição de temperatura da pele e até lanterna embutida. O relógio estreia três métricas inéditas para corredores: tolerância de corrida (para prevenir lesões ajustando o volume semanal), economia de corrida (eficiência ao longo dos treinos) e perda de velocidade por passada.
💡A Eight Sleep lançou o Pod 5, um sistema inteligente que transforma qualquer cama em uma plataforma de otimização do sono. A tecnologia combina controle térmico de alta precisão, elevação automática para reduzir ronco e melhorar a circulação, além de áudio integrado com trilhas de NSDR desenvolvidas com Andrew Huberman. O Pod 5 agora inclui sensores capazes de monitorar saúde cardiovascular e respiratória com precisão clínica, sem necessidade de relógios ou wearables.
💡Pesquisadores de Harvard e da Roche desenvolveram o COMPASS, um modelo de IA capaz de prever com precisão quem vai responder à imunoterapia contra o câncer. Treinado com mais de 10 mil tumores e testado em 16 coortes clínicas, o sistema superou 22 métodos existentes e identificou mecanismos de resistência como sinalização de TGF-β e disfunção de células T e B. É o primeiro modelo clínico generalizável com explicações biológicas, e pode mudar a forma como decisões são tomadas em tratamentos oncológicos.
💡A Regeneron anunciou a compra da 23andMe por US$ 256 milhões, em uma reviravolta para a empresa de testes genéticos que vinha à beira da falência. A aquisição inclui o maior banco de dados genéticos do mundo, com mais de 14 milhões de perfis, e sinaliza uma aposta clara na medicina personalizada. A estratégia pode acelerar o desenvolvimento de terapias guiadas por dados, mas reacende o debate sobre privacidade e o uso comercial de informações genéticas de consumidores.
💡O investimento em longevidade deu um salto em 2024, com US$ 8,49 bilhões distribuídos em 325 deals. Mais que o dobro do valor de 2023. O relatório anual da Longevity Industry mostra que a economia da longevidade está saindo da fase de hype e entrando na fase de execução.
💡Nos Estados Unidos, mais pessoas estão chegando aos 80 e 90 anos com saúde, lucidez e independência. “Quem tem 75 anos hoje está, em média, em melhor forma do que alguém de 75 anos uma geração atrás”, resume o geriatra Thomas Gill, de Yale. Estudos apontam para queda nas taxas de demência, maior recuperação funcional e o papel central de exercício, sono e alimentação saudável nessa transformação.
VALE SABER
“Você acha que dormiu o suficiente na última semana? Consegue se lembrar da última vez em que acordou sem despertador, se sentindo descansado e sem precisar de café?
Se a resposta for “não”, você não está sozinho.
Mais de um terço dos adultos, em países desenvolvidos, não atinge as 7 a 9 horas de sono recomendadas por noite. Talvez isso não surpreenda. Mas as consequências podem surpreender.
Dormir menos de seis horas por noite enfraquece o sistema imunológico e aumenta o risco de câncer. A falta de sono está ligada ao desenvolvimento de Alzheimer, e mesmo reduções moderadas, por apenas uma semana, já desregulam o açúcar no sangue a ponto de classificá-lo como pré-diabético. Dormir pouco também acelera o desgaste das artérias, abrindo caminho para doenças cardiovasculares, AVC e insuficiência cardíaca.
Como escreveu Charlotte Brontë, “uma mente agitada faz um travesseiro inquieto”. E a ciência confirma: distúrbios do sono agravam todos os grandes transtornos psiquiátricos — da ansiedade à depressão.”
— Fonte: Por que nós dormimos - Matt Walker
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