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Vacina contra a demência?
Um dos maiores estudos sobre um possível benefício "extra" de uma vacina

Bom dia. O próximo fim de semana é um convite para você refletir. É um momento que muitos de nós passamos em família. Celebre a Páscoa e reflita sobre seu significado. Independente da sua fé, a espiritualidade também faz parte da longevidade — ela traz propósito.
Uma feliz Páscoa para você!
Novidade: Virei embaixador da longevidade do PASA e AMS — planos de saúde de autogestão que cuidam cerca de 250 mil pessoas do Grupo Vale (e além). A partir de agora, eles também terão acesso aos conteúdos dessa news.
Por que estou te contando isso? Porque nosso propósito aqui é exatamente esse: ajudar o maior número possível de pessoas a se tornarem protagonistas da própria saúde. E você que lê essa newsletter faz parte disso. É essa comunidade que dá sentido a tudo.
🔎 RESUMO DA EDIÇÃO DE HOJE (TL;DR)
👵 A supercentenária de 117 anos: Novo estudo revela os bastidores biológicos de M116 — mitocôndrias potentes, epigenoma jovem e um microbioma fora da curva. Um caso raro que mostra que envelhecer não significa, necessariamente, adoecer.
🧠 Vacina e demência: Publicado na Nature, o maior estudo já feito sobre o tema mostra que a vacina contra herpes zoster está associada a menor risco de demência — especialmente em mulheres. Um possível efeito extra de proteger o sistema imune.
📊 Seus exames estão “normais”? Nesta edição, começamos uma nova série sobre interpretação de exames. O primeiro tema: valores de referência. Estar dentro da média nem sempre significa estar saudável — entenda o porquê.
🧬 Notícias da semana: queda de 84% em biomarcadores de Alzheimer com mudanças de estilo de vida, novo investimento bilionário em longevidade pela M42 de Abu Dhabi, boom das corridas de rua no Brasil, episódio de Huberman com Mark Hyman, e a jornada de 3.000 milhas de Judy Benjamin aos 80 anos para inspirar quem enfrenta o Alzheimer.
📚 Vale Saber: Dra. Casey Means critica o silêncio das lideranças médicas sobre os verdadeiros vilões da saúde: alimentação ruim e sedentarismo. “77% dos jovens de 21 anos nos EUA não têm preparo físico para entrar nas Forças Armadas.”
SUPERCENTENÁRIOS
Dentro do corpo da mulher que viveu 117 anos

Uma das coisas que mais nos fascina é conhecer histórias de pessoas que alcançaram resultados extraordinários nas áreas que nos interessam. Sejam atletas de elite, empreendedores visionários ou grandes líderes, mais do que os feitos em si, é o caminho até eles que nos fascina.
No mundo da longevidade, essa curiosidade se transforma quase em obsessão. O que faz algumas pessoas viverem tanto — e com tanta vitalidade? Por que elas conseguem escapar, por décadas, das doenças crônicas que atingem a maioria?
O próprio Peter Attia, no Outlive, constrói parte da sua tese observando esses raros indivíduos: os supercentenários. Pessoas que ultrapassam os 110 anos de vida com uma saúde surpreendentemente preservada. O padrão que ele observou? Eles adoecem tarde. Muito tarde. Décadas depois da média populacional.
Foi justamente isso que motivou um grupo de pesquisadores a realizar um estudo importante: um mapeamento multiômico completo de uma mulher que viveu até os 117 anos e 168 dias. Para descobrir o que, afinal, havia de especial em seu corpo — e o que poderíamos aprender com ele.
O paradoxo de M116
Ela é chamada de M116 no estudo, mas seu nome era Maria Branyas Morera — uma espanhola nascida nos Estados Unidos em 1907, que viveu a maior parte da vida na Catalunha. Durante um tempo, foi a pessoa viva mais velha do mundo. Mas o que mais surpreende não é a idade que ela alcançou, e sim o fato de que seu corpo, por dentro, parecia muito mais jovem do que sua certidão de nascimento indicava.
Sim, ela tinha marcadores clássicos de envelhecimento:
Telômeros extremamente curtos — ”as pontas” dos nossos cromossomos, que vão se desgastando com o tempo como se fossem as pontas de um cadarço velho;
Mutações relacionadas à hematopoese clonal — alterações nas células do sangue que se acumulam com a idade e podem ser um prenúncio de doenças como leucemia ou problemas cardiovasculares;
Células B envelhecidas — um tipo de célula do sistema imune que, com o tempo, perde a capacidade de reagir bem a novas ameaças.
Mas, ao mesmo tempo, mostrava uma resiliência biológica impressionante. Seu metabolismo, sua inflamação sistêmica, suas mitocôndrias, até seu microbioma intestinal — todos os sistemas pareciam estar funcionando com eficiência de gente bem mais jovem.
O que os dados revelaram?
M116 passou por uma análise multiômica completa, integrando genoma, epigenoma, transcriptoma, proteoma, metaboloma e microbioma. Um “grande raio-x” na biologia da longevidade.
Importante destacar: o estudo foi publicado recentemente e ainda não passou por revisão por pares (peer review), o que significa que os achados devem ser interpretados com cuidado — mas os dados são, no mínimo, fascinantes:
Mitocôndrias “fortes, com produção de energia mais eficiente do que em mulheres décadas mais jovens
Inflamação sistêmica baixa, indicando um ambiente biológico menos propenso a doenças crônicas
Variantes genéticas raras e protetoras, ligadas à imunidade, à saúde do coração e à preservação cognitiva
Metabolismo lipídico altamente eficiente, com triglicérides baixos, HDL alto e LDL em formato menos nocivo
Microbioma intestinal jovem, com altos níveis de Bifidobacterium, associados à redução da inflamação
Idade biológica inferior à cronológica, confirmada por seis relógios epigenéticos diferentes
Em vez de simplesmente evitar os marcadores do envelhecimento, Maria parece ter mantido a funcionalidade do corpo em alto nível, mesmo com sinais claros de que o tempo passou.
Os dados sugerem que a longevidade extrema não vem da ausência do envelhecimento, mas de um sistema biológico resiliente, moldado por fatores genéticos e um estilo de vida simples e consistente. Já conhecemos quais são os hábitos: exercícios físicos, alimentação saudável, sono de qualidade, comunidade, entre outros.
Envelhecer sem adoecer?
Talvez a descoberta mais importante desse estudo esteja justamente no paradoxo que ele revela.
Apesar de carregar sinais clássicos do envelhecimento — como telômeros curtos e alterações hematológicas — o corpo da M116 funcionava como o de alguém muito mais jovem.
Ela não evitou o envelhecimento. Mas manteve sua funcionalidade apesar dele.
Isso desafia uma ideia profundamente enraizada: a de que envelhecer e adoecer caminham juntos, de forma inevitável.
A chave da longevidade pode não estar em “fugir da velhice”, mas em preservar a resiliência biológica mesmo quando os sinais do tempo aparecem.
CIÊNCIA
Vacina contra Demência?

Foto por Ian Talmacs na Unsplash
Em meio às recentes declarações do novo governo americano, que anunciou a intenção de investigar uma possível relação entre vacinas e autismo — reacendendo um debate que divide opiniões em um mundo cada vez mais polarizado —, um novo estudo robusto da Nature trouxe uma notícia quente: a vacina contra o herpes zoster pode estar associada à redução do risco de demência.
O que o estudo mostrou
Pesquisadores analisaram um “experimento natural” no País de Gales: por conta de uma política pública, apenas pessoas nascidas antes de 3 de setembro de 1933 receberam a vacina Zostavax gratuitamente. Usando um método estatístico poderoso, eles encontraram uma associação relevante:
Entre os vacinados, o risco de desenvolver demência foi 20% menor ao longo de 7 anos de acompanhamento.
O efeito foi mais relevante em mulheres — que, aliás, têm maior risco de demência conforme um estudo grande que já mostramos em outra edição. Os dados foram replicados com populações de outros países, como Inglaterra e Dinamarca.
Por que este estudo se destaca
Este estudo supera limitações comuns de estudos observacionais ao usar um método que minimiza vieses. Os autores controlaram o uso de medicamentos, atendimentos médicos e outras vacinações — e mesmo assim, o efeito se manteve.
É considerado o estudo mais convincente até hoje sobre essa associação.
Mas… qual o mecanismo?
Ainda não está claro. Duas hipóteses estão em discussão:
A vacina pode reduzir a reativação do vírus da catapora (VZV), que já foi associada ao risco de demência em estudos anteriores. Pessoas que usaram antivirais após ter herpes zoster também mostraram menor risco.
Pode haver um efeito inespecífico do estímulo imunológico, ajudando a modular a inflamação crônica — um fator cada vez mais ligado ao envelhecimento cerebral.
⚠️ Limitações
Apesar da força do desenho, o estudo tem limitações: o acompanhamento foi de até 7 anos e o foco foi na Zostavax — vacina hoje substituída pela Shingrix, mais potente. Ainda são necessários estudos adicionais, com diferentes populações e vacinas, para confirmar os achados e entender melhor os mecanismos envolvidos.
O que isso muda?
Nada muda de forma imediata por lá e muito menos por aqui. Mas a ideia de que vacinas podem oferecer benefícios além da prevenção de infecções está ganhando corpo.
E, neste caso, o cérebro pode estar entre os beneficiados.
Como resumiu o Dr. Anupam Jena, que escreveu o editorial do estudo:
“A vacina pode representar uma intervenção de saúde pública com benefícios que vão além do seu propósito original.”
P.S Caso queira se aprofundar sobre o tema veja o post feito pelo Dr. Eric Topol.
SÉRIE EXAMES
Seus exames estão “normais”?

Um dos pilares da longevidade é medir o que importa.
Monitorar parâmetros ao longo do tempo nos permite tomar decisões melhores — e a forma mais comum de fazer isso, para a maioria das pessoas, é por meio de exames laboratoriais. Apesar de fazerem parte da rotina de saúde, é bem provável que a maioria das pessoas não saiba exatamente como interpretar os resultados.
E tudo bem — não é papel de ninguém virar especialista. Mas, se quisermos ser protagonistas da nossa própria saúde, é essencial entender o básico.
É como ter um carro: você sempre vai precisar de um bom mecânico, mas conhecer o mínimo para conversar com ele faz toda a diferença. E convenhamos — nossa saúde vale bem mais que o nosso carro.
Por isso, a partir desta edição, vamos começar a explicar alguns conceitos fundamentais que podem te ajudar a navegar por esse vasto mundo com mais clareza.
Valores de Referência: o que são e por que importam?
Quando você recebe o resultado de um exame laboratorial, normalmente vê uma tabela com seus números e, ao lado, uma coluna chamada “valor de referência” ou “intervalo de referência”.
Mas afinal, o que isso significa?
Imagine que você está em uma estrada e vê uma placa dizendo que a velocidade máxima permitida é 80 km/h. Se você está a 60 km/h, está dentro do permitido; se está a 100 km/h, está acima do limite.
Os valores de referência funcionam de forma parecida: eles são os “limites” que ajudam a identificar se aquele resultado está dentro do esperado para a maioria das pessoas consideradas saudáveis.
Como esses valores são definidos?
Por trás daquela faixa considerada “normal” existe um processo estatístico relativamente simples — mas com limitações. Tudo começa com a escolha de uma população de referência, que nem sempre é formada por pessoas verdadeiramente saudáveis. Em muitos casos, basta que estejam assintomáticas no momento do exame.
Depois, os laboratórios medem o parâmetro desejado (ex: como glicemia ou colesterol) nesse grupo e usam uma análise estatística padrão: os 2,5% mais baixos e os 2,5% mais altos dos resultados são descartados. O que sobra — os 95% centrais — vira o chamado intervalo de referência.
Na teoria, isso faz sentido. Na prática, cria distorções. Por exemplo:
Se 70% da população consome excesso de açúcar, a glicemia "normal" será influenciada por isso.
Se a maioria tem deficiência de vitamina D por falta de exposição solar, o valor de referência refletirá essa realidade.
É como se o limite de velocidade de uma estrada fosse definido pela média das velocidades que os motoristas costumam praticar, e não pelo que seria mais seguro. Se a maioria dirige rápido demais, o limite oficial pode acabar sendo alto — mas isso não significa que seja o melhor para sua segurança.
Com exames, é parecido: estar “dentro do normal” pode apenas significar que você está igual à maioria, e não necessariamente que está no seu melhor. Por isso, é importante olhar para os valores de referência como um guia, e não como uma sentença definitiva.
Além disso, os valores de referência podem mudar com o tempo, conforme o perfil da população se altera ou novas evidências científicas surgem. O que era considerado “normal” há 20 anos pode não ser mais hoje — e nem sempre essa mudança indica uma melhora coletiva.
Pelo contrário: na maioria dos marcadores metabólicos, os hábitos da população vêm piorando, e os números apenas acompanham esse declínio silencioso.
Normal não é igual a saudável
Vamos a um exemplo simples: a insulina.
Nos exames, o valor de referência pode ir de 2 a 25 μU/mL. Isso significa que qualquer valor dentro dessa faixa aparece como “normal”. Mas veja a diferença:
Uma pessoa com insulina em 4 provavelmente tem uma boa sensibilidade à insulina — seu corpo precisa de pouco para manter a glicose sob controle.
Outra pessoa com insulina em 20 pode estar em estágio inicial de resistência insulínica, mesmo que sua glicemia ainda esteja normal.
Ambas estão dentro da faixa “aceitável”. Mas uma está no seu melhor, e a outra já começa a mostrar sinais de alerta.
Seus melhores aliados
A verdade é que nenhum exame interpreta a si mesmo. Os números importam — mas quem dá sentido a eles é o contexto, a história do paciente, o olhar clínico.
Ter profissionais de saúde que saibam enxergar além da tabela é essencial. Médicos que olham para você, não só para o laudo. Que usam a ciência com critério, mas também com escuta.
Mas tão importante quanto isso é cultivar algo que não vem no tubo de ensaio: curiosidade.
Porque é ela que nos move a fazer perguntas, a buscar segundas opiniões, a entender melhor o que está acontecendo dentro do nosso corpo.
A longevidade não exige que você saiba tudo.
Mas pede que você se importe o suficiente para querer entender.
E esse é sempre o melhor começo.
NOTÍCIAS
O que mais está acontecendo?
💡 Estudo apresentado na Reunião Anual da American Academy of Neurology reforça que mudanças no estilo de vida podem alterar a trajetória do Alzheimer. Participantes que adotaram dieta, exercício e controle de estresse tiveram até 84% de redução em biomarcadores como p-tau, GFAP e NfL.
💡 A M42, empresa de investimentos em saúde de Abu Dhabi, anunciou um aporte na Juvenescence, biotech britânica avaliada em mais de US$ 550 milhões. A parceria estratégica foca no uso de inteligência artificial para desenvolver terapias que prolonguem a vida saudável. O movimento reforça o avanço do Oriente Médio no setor de longevidade.
💡 O Brasil vive um boom nas corridas de rua: em 2024, foram registradas 2.827 provas oficiais, um salto de 29% em relação a 2023, segundo a ABRACEO. O crescimento movimenta quase R$ 1 bilhão em inscrições e R$ 2,5 bilhões no turismo esportivo. A corrida é um esporte acessível, que combina treinos em zona 2 e estímulos para aumentar o VO₂ máximo — dois pilares fundamentais da longevidade.
💡 No novo episódio do Huberman Lab, o convidado é o Dr. Mark Hyman, médico e cofundador da plataforma Function Health. Eles discutem estratégias de longevidade baseadas em prevenção e tratamento das causas raiz das doenças, abordando temas como exames proativos, peptídeos, NAD/NMN, exossomos, nutrição e detoxificação. Ainda não terminei de assistir, mas já deu pra ver que vale a pena.
💡 Um novo relatório da BiopharmaTrend propõe uma estrutura clara para definir o que realmente é IA aplicada à descoberta de medicamentos (AIDD). A visão inclui quatro pilares: modelagem holística da biologia, plataformas robustas de software, acesso a dados multimodais em larga escala e validação científica concreta. Empresas como Insilico, Recursion e Verge lideram esse movimento, que pode transformar o desenvolvimento de terapias e acelerar soluções para doenças crônicas e longevidade.
💡 Aos 80 anos, Judy Benjamin iniciou no dia 5 de abril uma jornada a pé de 3.000 milhas pelos EUA para espalhar uma mensagem poderosa: o declínio cognitivo não precisa ser inevitável. Diagnosticada com Alzheimer aos 67, ela reverteu os sintomas com o protocolo de Dr. Dale Bredesen e hoje é coach certificada em longevidade. A caminhada de seis meses busca inspirar e conscientizar sobre prevenção e reversão do Alzheimer com foco em estilo de vida.
VALE SABER
“O exemplo mais evidente — e letal — dos incentivos voltados à intervenção no nosso sistema de saúde é que as lideranças médicas permanecem absolutamente silenciosas sobre aquilo que realmente está nos deixando doentes: alimentação e estilo de vida.
Se o cirurgião-geral dos EUA, o reitor da Faculdade de Medicina de Stanford e o diretor do NIH subissem amanhã os degraus do Congresso e dessem uma entrevista coletiva dizendo que precisamos de um esforço nacional urgente para reduzir o consumo de açúcar entre crianças, eu acredito que o consumo de açúcar cairia.
As pessoas nos Estados Unidos geralmente escutam líderes médicos. O número de fumantes despencou após a divulgação do relatório do Cirurgião-Geral sobre o tabagismo, e mudamos nossa dieta para mais carboidratos e açúcar (com efeitos desastrosos) quando a Pirâmide Alimentar foi lançada nos anos 1990.
Mas, em vez disso, nossos líderes médicos se mantêm em silêncio sobre as verdadeiras causas da nossa epidemia metabólica quase universal. Eles não soam o alarme de que adolescentes americanos estão tão sedentários e se alimentando tão mal que 77% dos jovens de 21 anos não têm condicionamento físico suficiente para entrar nas Forças Armadas.”
— Fonte: Good Energy - Dra. Cassey Means
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