
JUNTO COM
Bom dia. Longevidade compartilhada é entender que, ao cuidar de nós mesmos, influenciamos a vida de outras pessoas. Mudanças de hábitos muitas vezes nascem da influência de pessoas em quem confiamos. Talvez a chave da mudança que você quer ver no outro esteja em uma atitude sua.
🔎 RESUMO DA EDIÇÃO DE HOJE (TL;DR)
🧭 Metacognição na prática — Autocontrole de verdade: reconhecer o conflito entre desejo e objetivo, antecipar o “eu desconectado” e desenhar salvaguardas.
🌱 Longevidade além das planilhas — Texto da Dra. Marina Cecchini: dados importam, mas contexto social, cultural e o exposoma moldam o envelhecer. Precisão técnica + profundidade humana para viver melhor, não só mais.
🏃 Exercício pós-diagnóstico de câncer — Meta-análise aponta associação entre atividade física depois do diagnóstico e maior sobrevida em mama, pulmão, próstata e colorretal. Evidência observacional, mecanismos plausíveis, mensagem de sobriedade e esperança.
🗞️ Notícias da semana — IA clínica em alta: Counsel Health levanta Série A (a16z + GV); OpenEvidence capta US$ 200M (valuation US$ 6B). Cleveland Clinic fecha colaboração com Khosla Ventures. Microplásticos/PFAS: terapias caras com benefício incerto. Buck Institute: coquetel “Gly-Low” estende vida em camundongos (ainda sem humanos).
📚 Vale Saber — Shane Parrish: a maioria dos erros de julgamento ocorre quando nem percebemos que deveríamos estar julgando. Assumir responsabilidade e alinhar-se a como o mundo funciona é o início do bom julgamento.
MENTE
O poder da metacognição

Depois de dez anos de guerra, Ulisses só queria uma coisa: voltar para casa. Entre ele e Ítaca havia um trecho de mar que nenhum marinheiro cruzava consciente. A feiticeira Circe o avisou: vocês vão ouvir as Sereias e, quando ouvirem, vão querer ficar, você esquece quem é, de onde veio, para onde ia. Ulisses então planejou. Antes de chegar perto do perigo, enquanto ainda pensava com clareza, tomou decisões pelo homem que ainda não era, aquele que, sob o feitiço, imploraria para se perder no canto. Mandou a tripulação tapar os ouvidos com cera, pediu para ser amarrado ao mastro e deu uma ordem que sabia que iria querer desobedecer: não me soltem, não importa o que eu diga. Quando o canto começou, ele gritou, prometeu ouro, terras, tudo. Os marinheiros, “surdos” e fiéis ao Ulisses de antes, apenas apertaram as cordas. O navio passou, o som sumiu e, ali, suado e rouco, Ulisses entendeu que tinha vencido a si mesmo.
Essa vitória narrada em A Odisseia tem um nome: metacognição. A capacidade de pensar sobre o próprio pensamento. Ulisses não lutou contra as Sereias, lutou contra a versão futura de si mesmo. E venceu porque estava consciente. Como escreveu Viktor Frankl: “Tudo pode ser tirado de um homem, menos uma coisa: a última das liberdades humanas, escolher a própria atitude em qualquer conjunto de circunstâncias, escolher o seu próprio caminho.”
E isso é importante porque, como vimos na semana passada, felicidade e infelicidade andam juntas. Não dá para ter apreciação sem vulnerabilidade. Não dá para ter satisfação sem esforço, e a frustração que às vezes vem com ele. Não dá para ter propósito sem sacrifício. Toda escolha boa cobra um preço emocional. Faz parte.
O problema não é sentir medo, cansaço, tristeza ou dúvida. O problema é obedecer a esses sentimentos como se fossem ordens. A metacognição é aprender a ouvir essa voz e escolher conscientemente o que fazer.
A gestão das emoções
Emoções são sinais, não ordens. Elas avisam que algo está pedindo atenção, mas quem decide a resposta é você. Metacognição é essa passagem do piloto automático para o comando consciente: “tirar a emoção bruta do sistema límbico e processá-la no córtex pré-frontal”, onde se torna informação útil. É a diferença entre reagir e responder.
Como fazer isso na prática, em pouco tempo e no meio da vida real:
1) Dê nome: quando a onda da emoção vier, descreva mentalmente o que sente: “estou com raiva e medo”. Falar por dentro já muda o circuito. Você se vê sentindo, em vez de ser arrastado pelo sentimento. Dar nome cria distância, e distância cria escolha.
2) Crie uma pausa: antes de agir, respire fundo algumas vezes e expire devagar. Nesse intervalo, imagine as consequências do que pretende dizer ou fazer. Seu e-mail de resposta muda, a conversa muda, você muda. A pausa não apaga a emoção, ela abre espaço para a decisão.
3) Escolha a ação pelo objetivo: pergunte: “qual resultado eu quero aqui?” Em seguida, escolha a ação que move você nessa direção. Às vezes é enviar uma mensagem curta e educada. Às vezes é não responder agora. Às vezes é pedir cinco minutos. A emoção pode até sugerir, mas é você quem decide.
4) Coloque no papel: anote o que está sentindo ao longo do dia. Sim, exige esforço, mas ao colocar no papel você força o cérebro a traduzir a sensação bruta em linguagem, e isso já é metacognição em ação. Em uma semana você enxerga padrões e começa a aprender.
O objetivo não é abolir sentimentos. Negativos ou positivos: medo, cansaço, raiva, tristeza, euforia, orgulho pela conquista — todos fazem parte da vida. O ponto é evitar que virem comportamento automático que te afasta do que importa e que assumam o controle da sua vida.
Às vezes você pode mudar a situação que está ruim: trocar de emprego, ajustar um relacionamento, evitar um gatilho. Mas muitas vezes não dá. Uma doença crônica. A perda de alguém. O clima que não muda. Você vai ficar triste, claro, mas pode escolher como isso vai afetar sua vida.
É aí que a metacognição se torna essencial. Entre o que acontece com você e como você responde existe um espaço. Nesse espaço mora sua liberdade. Não controlamos o mundo, mas podemos escolher como passar por ele.
Com prática, dá até para treinar quais emoções você quer cultivar. Gratidão é um bom exemplo, mas isso é tema para outro dia.
Veja, Ulisses não acabou com o canto. Passou por ele. Com prática, da mesma forma, aprendemos a notar o perigo e a colocar salvaguardas: observar, pausar, escolher. Transformar a primeira descarga emocional em clareza de intenção e, a partir dela, agir com intenção.
Esse é o poder da metacognição: não mudar o que você sente, e sim decidir o que faz com isso para viver mais, melhor e com paz.
UM CONTEÚDO DA CARECLUB
Jornada Única, Cuidado Completo

Na Care Club, temos um propósito claro: cuidar de cada pessoa de forma única, com atenção total à sua jornada e aos seus objetivos de saúde. Criamos um ambiente acolhedor, leve e familiar, onde todos se sintam em casa desde o primeiro contato. Há 15 anos, escolhemos ser pioneiros na Medicina do Esporte no Brasil. Desde então, nos tornamos referência para quem vive a atividade física — não importa qual seja sua modalidade ou nível de prática. Nosso compromisso é estar ao seu lado em cada passo dessa trajetória.
Contamos com uma equipe multidisciplinar integrada, que combina o melhor da ciência, inovação e tecnologia para oferecer um cuidado completo e personalizado. Seja para correr uma maratona, perder peso ou simplesmente voltar a caminhar sem dor, estamos aqui para apoiar você em cada conquista. A ciência nos ajuda a viver mais. A Care Club quer que você viva melhor — com mais saúde, disposição e qualidade de vida. Venha nos conhecer. Estamos prontos para caminhar com você.
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PALAVRA DA ESPECIALISTA
Longevidade além das estatísticas: Por que precisamos ampliar o olhar científico

A busca pela longevidade está na moda. De startups bilionárias a centros de pesquisa, todos parecem correr contra o tempo para estendê-lo. Nunca tivemos tantos dados, gráficos e biomarcadores à nossa disposição e, ainda assim, talvez nunca tenhamos compreendido tão pouco sobre o que realmente significa envelhecer bem.
Recentemente, Saul Justin Newman trouxe um alerta importante: a maioria dos dados sobre longevidade extrema são questionáveis. Em suas pesquisas, Newman revelou que cerca de 80% dos indivíduos com mais de 110 anos registrados no mundo carecem de documentação comprovada, lançando dúvidas sobre a precisão das estatísticas mais citadas sobre o tema.
A questão que surge, então, é: se mesmo os dados mais básicos são frágeis, será que nossa ciência atual realmente está mapeando, enxergando e projetando tudo o que precisa?
É aqui que precisamos ampliar o horizonte científico. Embora não exista uma única pesquisa que afirme explicitamente que a ciência tradicional ignora contextos sociais, culturais e históricos, vários estudos ilustram essas lacunas de forma indireta. Por exemplo, pesquisas como a de Way-Houser mostram que contextos específicos (como os desafios enfrentados por mulheres afro-americanas na menopausa) são frequentemente negligenciados em estudos médicos. Da mesma forma, Spelta aponta dificuldades em generalizar resultados de longevidade entre populações diferentes devido a fatores sociais e territoriais.
Além disso, precisamos reconhecer que o envelhecimento não é apenas uma função biológica; ele é também político, econômico e afetivo. Modelos de longevidade bem-sucedidos frequentemente vêm de práticas culturais e comunitárias sustentáveis, aspectos muitas vezes subestimados por pesquisas que privilegiam abordagens biomédicas ou tecnológicas.
Outro ponto crítico é o chamado exposoma, um conceito que representa todas as exposições ambientais acumuladas ao longo da vida de uma pessoa. Inclui desde a qualidade do ar que respiramos, os alimentos que consumimos e até o estresse que enfrentamos, além de experiências emocionais. Estudos mostram que o exposoma pode influenciar nossa longevidade de forma mais significativa do que os próprios genes.
Tudo isso reforça que a ciência da longevidade precisa ser, necessariamente, plural. Mais do que números e estatísticas, precisamos de abordagens integrais que considerem cada pessoa como única. Afinal, o objetivo não é apenas viver mais, mas viver melhor.
Na prática, isso significa que, enquanto esperamos por avanços científicos consistentes, podemos começar a construir nosso próprio caminho para uma longevidade real e satisfatória. Como? Incorporando práticas que façam sentido em sua história pessoal e contexto de vida, medindo parâmetros básicos com a ajuda de wearables, realizando exames periódicos ou testes funcionais e, sobretudo, interpretando esses dados com consciência e individualidade.
A ciência precisa avançar, sim, não apenas em precisão técnica, mas em profundidade humana. Isso significa investir em dados mais confiáveis, mas também em lentes mais amplas, que considerem a complexidade da vida real, com suas desigualdades, histórias e singularidades.
Antes de aplicar regras gerais, é preciso entender o contexto particular de cada pessoa. Sem isso, corremos o risco de construir soluções para uma humanidade que só existe em planilhas e não nas pessoas.
Para quem busca viver mais e melhor, essa é uma chave fundamental: não basta acompanhar as tendências da longevidade, é preciso entender o que, de fato, faz sentido para você. O que você quer sustentar, melhorar, cultivar ao longo do tempo? Quais práticas realmente impactam a sua vitalidade?
Porque, no fim, longevidade de verdade é menos sobre quanto tempo você vive e mais sobre como você preenche esses anos.
ONCOLOGIA
Exercício após o diagnóstico de câncer

No mundo da longevidade o foco costuma ser prevenção e predição. Ainda assim, a vida acontece: às vezes surge um câncer que não estava no plano (batendo na madeira). Aí entra a importância do check-up para descobrir cedo e entra também uma pergunta: depois do diagnóstico, exercício pode ajudar a aumentar as chances? A resposta curta é: aparentemente, sim. Vamos ao que sabemos até aqui.
O estudo
Uma meta-análise publicada recentemente na GeroScience reuniu 151 coortes e quase 1,5 milhão de pacientes com os quatro cânceres mais comuns — mama, pulmão, próstata e colorretal — além de pele. O foco foi atividade física após o diagnóstico e sua relação com mortalidade específica por câncer e por todas as causas. Os resultados apontam associação consistente: mama −31%, pulmão −24%, próstata −27%, colorretal −29% de risco de morte pelo câncer entre os mais ativos versus os menos ativos. Para “todas as causas”, a redução ficou entre 22% e 37%, variando por tipo de tumor. Já em câncer de pele, a queda (−14%) não foi considerada estatisticamente significativa.
Antes de tirar conclusões causais, vale a prudência que o Peter Attia também destacou ao discutir esse trabalho: os dados são observacionais e sofrem risco de healthy user bias. Quem consegue se exercitar também costuma aderir melhor ao tratamento, dormir melhor, comer melhor e evitar cigarro e álcool, o que pode contaminar o efeito “puro” do exercício. Além disso, houve heterogeneidade de medidas (questionários versus acelerômetros) e sinais de viés de publicação em alguns grupos, o que recomenda cautela com números exatos. A meta-análise também não conseguiu cravar uma dose ideal de exercício; os estudos usaram recortes diferentes e isso impediu uma análise de dose-resposta robusta.
Mesmo com essas limitações, existem mecanismos biológicos plausíveis que sustentam a associação: exercício reduz inflamação crônica e estresse oxidativo, melhora a função mitocondrial e a sensibilidade à insulina, e potencializa a vigilância imune, incluindo maior atividade de células NK e de linfócitos infiltrados no tumor. Isso pode ajudar tanto no controle da doença quanto na tolerância ao tratamento.
Um resumo
Em conjunto, as evidências apontam para uma associação consistente entre atividade física após o diagnóstico e maior sobrevida em câncer de mama, pulmão, próstata e colorretal. O desenho observacional pede cuidado, mas o achado é coerente com mecanismos biológicos conhecidos. Não é milagre, não substitui tratamento, e cada caso tem contexto próprio. Por isso ter um bom corpo clínico próximo é fundamental.
A mensagem é de esperança: quando o corpo pode se mover, o movimento ajuda. Entre prevenção e tratamento existe um terreno onde escolhas diárias ainda importam. Espero que nunca tenhamos de passar por algo assim; mas, se acontecer, força. Há muita esperança e uma ciência que evolui a cada ano.
NOTÍCIAS
O que mais está acontecendo?
💡 Cresce o mercado de terapias para remover microplásticos e PFAS do corpo, de suplementos intestinais a máquinas de filtração de plasma que custam mais de US$ 10 mil por sessão. Clínicas na Europa e startups nos EUA afirmam reduzir partículas, mas faltam evidências clínicas de benefício. Cientistas alertam que a reexposição é inevitável e que os ganhos podem ser apenas temporários, segundo o Washington Post.
💡 Cientistas do Buck Institute mostraram em camundongos que um coquetel “Gly-Low” (nicotinamida, ácido α-lipóico, tiamina, piridoxamina e piperina) reduziu fome, melhorou resistência à insulina e prolongou a vida ao diminuir AGEs, subprodutos da glicação ( reação em que o açúcar danifica proteínas e acelera o envelhecimento) segundo estudo na Cell Reports. O achado ainda não foi testado em humanos.
💡 A OpenEvidence levantou US$ 200 milhões a um valuation de US$ 6 bilhões, três meses após captar US$ 210 milhões. A plataforma é tipo um “ChatGPT para médicos” é treinada com dados do JAMA e NEJM, atende 15 milhões de consultas clínicas/mês, é gratuita para profissionais verificados e apoiada por anúncios. Rodada liderada pela GV, com Sequoia, Kleiner Perkins, Blackstone, Thrive, Coatue, Bond e Craft.
💡Cleveland Clinic e Khosla Ventures anunciaram uma colaboração estratégica que conecta startups do portfólio ao ambiente clínico do sistema para validar, pilotar e escalar tecnologias. Prioridades: IA/digital health, terapêuticas/diagnósticos e novos modelos de cuidado. Já há acordos comerciais em andamento e as partes estudam incubar uma nova empresa em conjunto, unindo rigor clínico e execução de venture para acelerar impacto em saúde e longevidade.
💡 A Counsel Health levantou US$ 25 milhões em Série A liderada por a16z e GV para lançar um “front door” de saúde com IA supervisionada por médicos. O serviço oferece respostas imediatas via chat/voz e escalonamento para diagnóstico, prescrição e follow-up. A empresa reporta 96% de resolução de casos, US$ 381/ano em economia por membro e já atende 100 mil+ pessoas nos EUA.
VALE SABER
“A maioria dos livros sobre pensamento foca apenas em ser mais racional. Eles ignoram o problema fundamental: a maioria dos erros de julgamento acontece quando não sabemos que deveríamos estar exercendo julgamento. Eles acontecem porque o nosso subconsciente está dirigindo nossos comportamentos e nos tirando do processo de determinar o que devemos fazer. Você não escolhe conscientemente discutir com seu parceiro, mas se pega dizendo coisas dolorosas que não podem ser apagadas. Você não busca conscientemente dinheiro e status às custas da sua família, mas se vê passando cada vez menos tempo com as pessoas que mais importam na sua vida. Você não procura conscientemente defender suas ideias, mas se vê guardando rancor de qualquer um que o critique.
A chave para conseguir o que você quer da vida é identificar como o mundo funciona e se alinhar a isso. Muitas vezes as pessoas acham que o mundo deveria funcionar de maneira diferente do que funciona e, quando não obtêm os resultados que querem, tentam escapar da responsabilidade culpando outras pessoas ou suas circunstâncias. Evitar a responsabilidade é receita para a miséria, e o oposto do que é necessário para cultivar bom julgamento.”
— Fonte: Shane Parrish
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