
JUNTO COM
Buenos. Existe um ditado popular mais ou menos assim: “dinheiro não leva desaforo para casa”. Por aqui, podemos pensar em “o tempo não leva desaforo para casa”. Precisamos aprender a respeitar o tempo, escolhendo onde vamos focá-lo. Como diria Charlie Munger:
“Todas as pessoas inteligentes deveriam pensar, antes de tudo, em termos de custo de oportunidade. Ao decidir se deve fazer algo, compare com a melhor oportunidade que você tem.”
🔎 RESUMO DA EDIÇÃO DE HOJE (TL;DR)
🧠 A sociedade simpática. Por que vivemos em modo de alerta e o que a via vago-cérebro-imune revela sobre inflamação crônica. Passos práticos para acionar o “freio” parassimpático no dia a dia.
♀️ Ovários e longevidade. Texto da Dra. Vânia Assaly. Saúde ovariana como marcador central da vitalidade feminina, cérebro e hormônios em diálogo, uso responsável de terapia hormonal e pilares de estilo de vida.
🧬 Genética do colesterol no Brasil. Dados locais revelam 161 variantes que influenciam o perfil lipídico e ajudam a personalizar prevenção desde cedo.
💡 Notícias da semana. Heidi Health levanta US$ 65 mi e lança agente que liga para pacientes; Midi Health capta US$ 50 mi e chega a 20 mil atendimentos por semana; AstraZeneca fecha acordo de até US$ 555 mi com a Algen para IA + CRISPR em imunologia; Nobel de Medicina premia as células T reguladoras; estudo do Max Planck explica por que mulheres vivem mais; nasce a Puríssima, nova empresa do Flávio Passos.
📚 Vale Saber. Arthur Brooks lembra: você pode não escolher as circunstâncias, mas escolhe a sua resposta. O controle começa por onde coloca a atenção
O STRESS CRÔNICO
A sociedade simpática

Este não é um texto sobre gentileza, apesar de que, em um mundo que celebra a independência e esquece o quanto a interdependência nos sustenta, um pouco de boas maneiras cairia muito bem. O assunto aqui é outro. É o stress. Ele virou pano de fundo do cotidiano e, quando permanece, cobra um preço alto na saúde.
A fotografia global não anima. Análises com mais de dois milhões de respostas em 149 países mostram uma tendência consistente de piora do stress emocional entre 2007 e 2021. Em 2007, cerca de um quarto (25%) das pessoas dizia ter se sentido estressada no dia anterior. Em 2020, a proporção se aproximava de quatro em cada dez (40%). É um movimento amplo, com variações regionais, mas a curva geral sobe, principalmente nos jovens.
Por que isso interessa para a longevidade?
Porque viver sempre em alerta desregula sistemas que deveriam alternar entre aceleração e descanso. O sistema nervoso autônomo opera nesses dois modos. O simpático aciona a resposta de luta ou fuga, tensiona músculos, acelera coração e respiração. O parassimpático freia, acalma, permite recuperar. O problema não é ter o primeiro, é ficar preso nele. A ativação contínua do sistema simpático alimenta uma inflamação persistente, de baixo grau, que aumenta o risco de doenças cardiovasculares, depressão, demência e outras condições crônicas.
Nos últimos anos, a ciência mostrou que o cérebro e a imunidade se regulam mutuamente. Um artigo na Nature descreveu um circuito que leva sinais do sistema imune ao cérebro pelo nervo vago e devolve comandos do cérebro para a periferia. Citocinas pró e anti-inflamatórias ativam grupos diferentes de neurônios vagais sensoriais, que avisam o tronco encefálico sobre o que ocorre nos tecidos. A partir daí, o cérebro também age. Quando os autores inibiram a via do cérebro para os tecidos durante um desafio imune, a inflamação saiu do controle; quando a estimularam, reduziram componentes pró-inflamatórios e favoreceram respostas resolutivas, protegendo os animais. Em outras palavras, o estado do sistema nervoso, influenciado por estresse ou por práticas que ativam o parassimpático, consegue ajustar a intensidade da resposta imune.
Essa descoberta ajuda a entender por que a “sociedade simpática” adoece. Se o corpo envia ao cérebro um fluxo constante de sinais de ameaça, a regulação fina da inflamação perde precisão e o ajuste parassimpático, que deveria reequilibrar, fica prejudicado. No dia a dia isso significa que não é só a presença de um diagnóstico que pesa, mas também, por exemplo, a ansiedade quando temos um problemas, fatores que alimentam o estado de alerta.
Como sair desse piloto automático?
Essa é a questão. Como sair desse modo crônico de aceleração para uma vida com mais “freio”? A base é conhecida para você que lê a Longevidade News:
dormir pelo menos sete horas
priorizar uma alimentação saudável
mexer o corpo regularmente
cultivar laços sociais
Esses pilares aumentam a capacidade de adaptação do organismo a estressores inevitáveis.
Há também intervenções de curto prazo que funcionam como botões de reset. Lembra do texto sobre respiração? O Box-breathing? Aprender diferentes formas de respirar é transformador. Ao longo do dia, crie micro-pausas conscientes. Um chá, um banho, uma caminhada curta, mas com presença total no agora. Alongue o corpo para soltar a tensão acumulada nos ombros. Se possível, faça uma caminhada de dez minutos quando perceber que o gatilho disparou.
O ambiente importa e muito, já falamos sobre isso aqui. Música calma, escutada com atenção, pode conduzir a um estado mais sereno. Faça pausas do celular. Rir também tem efeito fisiológico favorável e vale como recurso nas horas certas. E cuide da conversa interna. Troque a autocrítica automática por frases de suporte. Por fim, saiba pedir ajuda quando precisar. Interdependência não é fraqueza, é força.
A sociedade simpatizante do excesso de alerta está aí fora. Se blindar é trabalho diário. Há esperança no que a ciência revela sobre o eixo vago–cérebro–imunidade, e há força nas escolhas que acalmam o corpo agora. Se conseguirmos acionar com mais frequência esse “freio”, não só nos sentiremos melhor. Daremos ao organismo as condições para manter a inflamação sob controle e, com isso, ganhar dias daqui pra frente com mais qualidade e provavelmente uns anos extras no final.
UM CONTEÚDO DO INSTITUTO ASSALY
Personalização para uma vida melhor

No Instituto Assaly, acreditamos que longevidade é viver mais, é viver melhor, com autonomia, clareza e saúde integral. Somos um centro de excelência em medicina personalizada, onde ciência de ponta, escuta qualificada e visão humana se integram. Com uma equipe multidisciplinar, coordenada pela Dra Vânia Assaly, unimos genômica, nutrição, medicina preventiva e práticas baseadas em evidências para criar estratégias únicas para cada fase da vida. Aqui, cada detalhe importa. Se você busca um cuidado que respeita sua história, sua biologia e seu futuro, agende uma consulta com nossa equipe. O caminho da longevidade começa com escolhas feitas hoje e podemos criar uma jornada de saúde tão única quanto você.
PALAVRA DA ESPECIALISTA
Ovários: Marcador de longevidade feminina

Durante muito tempo, os ovários foram vistos apenas como guardiões da fertilidade. Hoje, sabemos que eles desempenham um papel muito mais amplo: sinalizam a saúde geral da mulher e podem ser considerados um marcador central da longevidade.
Como destaca a neurocientista Lisa Mosconi, a saúde ovariana não afeta apenas a capacidade reprodutiva, mas também a função cerebral. Estrogênios modulam a neurogênese, a plasticidade sináptica e protegem regiões-chave do cérebro, como o hipocampo e o córtex pré-frontal, responsáveis por memória, atenção e regulação emocional. A queda hormonal da menopausa, portanto, não impacta apenas a fertilidade, mas também acelera processos de declínio cognitivo.
Imagine que mais de um terço da vida da mulher ocorre sem hormônios ovarianos ativos, e é nesse período que se observa a aceleração do envelhecimento. Por isso, a ciência da longevidade tem buscado dar resposta a milhares de mulheres que querem ter uma vida com vitalidade e brilho, indo muito além da procriação.
Neste aspecto, Judith Campisi, falecida recentemente e uma grande referência em senescência celular, nos lembra que “vivemos para procriar” e que a natureza não se importa com o que ocorre conosco após a reprodução. Mas a medicina moderna e o estilo de vida podem intervir, prolongando não apenas a fertilidade, mas a saúde e a vitalidade em todas as dimensões.
Ampliando as pesquisas sobre como a saúde ovariana preserva a juventude da mulher, descobrimos que eles influenciam diretamente nossas mitocôndrias, preservando a energia celular e reduzindo o estresse oxidativo. Portanto, a corrida para manter os ovários produtivos foi um dos temas do ARDD 2025, com um painel especialmente voltado para rever os preconceitos sobre as terapias hormonais, mas também trazer maior conscientização sobre o mau uso das terapias hormonais. Sempre coloco que hormônios trabalham como músicos em uma orquestra; se um exagera, a sinfonia hormonal não irá ressoar bem em nossas células.
Nódulos no útero, hiperplasia de endométrio, nódulos e câncer de mama… Tudo isso deve ser avaliado quando pensamos sobre a terapia de reposição hormonal, especialmente o estrogênio, que preserva a saúde cerebral, mantendo memória, atenção e equilíbrio emocional. O equilíbrio dos níveis de estrogênio e progesterona interfere na qualidade do sono, e a presença de ondas de calor é hoje considerada marcador do avanço do envelhecimento cerebral.
E falar de libido (assim como sexualidade e prazer) é um tema essencial na saúde física e mental, reforça a Menopause Society. E existem caminhos para prolongar essa vitalidade. Um estilo de vida saudável, com exercícios, sono adequado, nutrição anti-inflamatória e manejo do estresse, preserva a função ovariana. Novos ativos e suplementos, antioxidantes e moduladores celulares contribuem para preservar a saúde ovariana, mas pesquisas inovadoras exploram o transplante de ovário, células-tronco e bioengenharia, abrindo possibilidades e oferecendo um olhar para o futuro da saúde da mulher no século XXI.
Manter os ovários funcionais, como opção para mulheres que retardam o momento da fertilidade e buscam manter a função hormonal, é poder se reprogramar para a longevidade ativa. Além disso, a medicina personalizada, apoiada em genética, farmacogenômica e exames hormonais, permite estratégias adaptadas ao perfil de cada mulher.
O ovário não é apenas o guardião da fertilidade; ele é fonte de vitalidade feminina, conectando corpo, mente, energia e sexualidade. Cuidar dele é investir na longevidade.
CIÊNCIA BRASILEIRA
Genética do colesterol no Brasil

Na saúde, uma das coisas mais transformadoras que vamos viver nos próximos anos é o poder da personalização. Hoje, já geramos muitos dados e, no futuro, essa quantidade será ainda maior. Vamos ser monitorados do sono à glicemia. Na prática, tudo isso já é possível, e a tendência é ficar mais acessível, amplo e aprofundado, com cada um recebendo instruções úteis para decidir melhor ao longo do dia.
Por um lado, a tecnologia já anda nessa direção. Quando você anexa arquivos em um projeto dentro do ChatGPT, por exemplo, já consegue pesquisar de forma mais direcionada. É impressionante. O gargalo não está na ferramenta. Está na qualidade dos dados. Sem dados bons, a personalização vira palpite. Por isso, investir em ciência é imperativo e o Brasil tem uma vantagem quase "incopiável” que precisa aproveitar — temos uma das maiores diversidades genéticas do mundo.
O estudo
É nesse sentido que a Genera, laboratório de genômica do ecossistema Dasa (fundado pelo Dr. Ricardo di Lazzaro), liderou um estudo muito interessante, ainda em pré-print, que deve ser publicado em breve. Com base em 19.016 brasileiros que fizeram teste genético e tinham exames de sangue disponíveis, a equipe identificou 161 variantes genéticas associadas a perfis lipídicos como colesterol total, LDL, HDL, triglicerídeos e não-HDL. Destas, 99 variantes ainda não haviam sido descritas por outros estudos.
O estudo usou duas etapas que se complementam. Na primeira, chamada GWAS, os cientistas vasculham o DNA de muita gente e comparam quem tem e quem não tem alterações no colesterol. Assim, identificam “letras” do DNA que aparecem com mais frequência em pessoas com colesterol alterado. Essas letras são as variantes. Na segunda etapa, calculam um escore de risco poligênico. Pense em um placar: cada variante soma um pouquinho. Somadas, elas geram um número único que indica a probabilidade de a pessoa ter o perfil de lipídios fora do ideal. Quanto maior o placar, maior a chance.
No conjunto analisado, os escores mostraram capacidade de previsão entre 0,62 e 0,66 de AUC, número que indica o quão bem o modelo separa quem tem maior risco de quem tem menor risco. Em termos práticos, a diferença aparece quando você compara extremos. Cerca de 27% das pessoas no grupo de menor risco genético tinham colesterol elevado, contra 74% no grupo de maior risco. Lembre-se: não é destino, é probabilidade. E probabilidade, quando identificada cedo, muda conduta e engaja.
Por que isso é importante para você? Porque a população brasileira é miscigenada (na minha opinião, um dos ativos mais importantes do nosso país), e muita coisa que foi desenvolvida em estudos europeus não funciona com a mesma precisão aqui. Ter dados locais melhora o ajuste dos modelos e abre caminho para prevenção desde cedo. Um recém-nascido com alto risco genético não precisa esperar anos para descobrir que tem colesterol fora do lugar. Pode começar a acompanhar de perto desde a infância, com foco em hábitos e, quando indicado, exames e intervenções precoces.
Também é importante entender o que esse tipo de resultado não é. Ele não substitui diagnóstico. Ele não elimina a necessidade de exames como ApoB e Lp(a), que já discutimos em detalhes aqui na Longevidade News. O papel dessa análise é somar. Ela ajuda a identificar quem merece atenção mais cedo, quem precisa de metas mais rígidas, quem talvez deva testar intervenções antes do “padrão” recomendado para a maioria.
Aqui entram duas frentes práticas. A primeira é clínica: se você cair em faixas de risco mais altas, entra a personalização — periodicidade de exames, metas individualizadas e, quando fizer sentido, uso de medicamentos. A segunda é de estilo de vida. Genética é um interruptor, mas quem “liga” é o cotidiano. Por isso, cuide dos pilares de uma vida saudável e, se você souber que tem um risco maior, esse cotidiano também vai mudar. Veja abaixo o que o Dr. Ricardo di Lazzaro comentou com exclusividade para a News:
"Estamos avançando a passos largos rumo a um cuidado de saúde muito mais personalizado. Poder fazer isso aqui no Brasil, com a nossa população e com a base de meio milhão de pessoas já genotipadas pela Genera, é um diferencial enorme — isso tornará escores genéticos como este cada vez mais precisos e informativos."
Se conseguirmos combinar dados locais de qualidade com prática clínica cuidadosa, damos um passo concreto rumo à personalização que interessa.
NOTÍCIAS
O que mais está acontecendo?
💡 Heidi Health levanta US$ 65 mi em Série B liderada pela Point72; o scribe de IA e “care partner” já teria devolvido 18 mi de horas a clínicos (70 mi de atendimentos em 116 países). Ainda anunciou o lançamento de um agente que liga para pacientes em nome do médico e reforços no time executivo. Total captado chega a cerca de US$ 97 mi.
💡 Nasce a Puríssima, nova empresa de Flávio Passos, três anos após a venda da Puravida à Nestlé em 2022. Plataforma de nutrição personalizada em modelo de farmácia de manipulação digital apoiada por IA, conta com fábrica própria em Juiz de Fora. Evento de lançamento em 08/10 reuniu mais de 9 mil pessoas conectadas.
💡 Midi Health, empresa de saúde da mulher focada em menopausa e perimenopausa, levanta US$ 50 mi em Série C (Advance Venture Partners). Atende cerca de 20 mil pacientes/semana e tem run rate de US$150 mi. A empresa lançou em maio deste ano o programa de prevenção AgeWell.
💡 AstraZeneca fecha acordo de até US$ 555 mi com a Algen Biotechnologies para identificar alvos em imunologia com IA + CRISPR; ganha direitos exclusivos de desenvolvimento e comercialização, com pagamentos atrelados a marcos. Algen é spin-out do laboratório da Nobel Jennifer Doudna.
💡 Nobel de Medicina 2025 reconhece Mary E. Brunkow, Fred Ramsdell e Shimon Sakaguchi pelas células T reguladoras e a tolerância imunológica periférica. Descobertas pavimentaram terapias para doenças autoimunes e câncer e podem melhorar transplantes.
💡 Por que mulheres vivem mais? Estudo do Max Planck em Science Advances analisou 1.176 espécies e mostra que, entre 528 mamíferos, fêmeas vivem ~13% mais em 72% das espécies; no humano, o gap nos EUA chegou a 5,8 anos em 2021. Fatores combinam genética (dois X como “backup”), comportamento e papéis sociais, com correlação entre quem cuida mais da prole e maior longevidade.
VALE SABER
“Algo aconteceu que mudou Albina e a libertou. Três coisas, na verdade. Primeiro, certo dia, por volta dos quarenta e poucos anos, uma ideia simples lhe ocorreu. Ela sempre acreditara que, para ser mais feliz, o mundo externo precisava mudar. Afinal, seus problemas vinham de fora: do azar e do comportamento dos outros. Isso era confortável, de certo modo, mas a deixava em uma espécie de estado de suspensão. Talvez, pensou ela, mesmo que não pudesse mudar suas circunstâncias, pudesse mudar a própria reação a elas. Ela não podia decidir como o mundo a trataria, mas talvez tivesse alguma voz sobre como se sentir em relação a isso. Talvez não precisasse esperar que a dificuldade ou o sofrimento em sua vida diminuíssem para começar a seguir em frente. Ela começou a procurar decisões em sua vida onde antes havia apenas imposições. A desesperadora falta de esperança de sentir-se à mercê do marido de quem estava separada, da economia, das necessidades dos filhos, começou a diminuir. Suas circunstâncias não eram as donas de como ela se sentia em relação à vida; quem mandava era ela.”
— Fonte: Arthur Brooks
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