O poder das relações na longevidade

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🔎 RESUMO DA EDIÇÃO DE HOJE (TL;DR)

👥 Comunidade: Exploramos como conexões sociais sólidas influenciam positivamente a longevidade, destacando a importância de cultivar relacionamentos significativos para uma vida mais longa e saudável.

⏳ Jejum: Analisamos artigos sobre o jejum além da simples redução calórica, investigando seus efeitos na longevidade e o que ainda falta entender.

💊 Magnésio L-Treonato: Veja como este suplemento específico de magnésio pode melhorar a qualidade do sono e a função cognitiva, oferecendo benefícios para a saúde mental e bem-estar geral.

📰 Notícias da semana: Destaques sobre novos investimentos no setor de longevidade, um relatório abrangente do mercado e avanços recentes em pesquisas sobre envelhecimento.

📚 Vale Saber: "Para mim, correr é tanto um exercício como uma metáfora..." – uma reflexão inspiradora de Haruki Murakami sobre disciplina e autoaperfeiçoamento.

UM DOS PILARES

Comunidade: A ligação entre laços fortes e a longevidade

Foto por Helena Lopes na Unsplash

"Não se aproxime de fulano, que ele é má companhia".

Acho que todos nós devemos ter escutado alguma versão dessa ao longo da infância dita pela nossa mãe e, mesmo com toda ciência ultramoderna, sabemos que conselho de mãe é sagrado e ai do filho(a) que não seguir. Experimente sair de casa sem o casaco que a mãe pediu. 🙃

E é um desses conselhos que faz parte dos pilares da longevidade: o conceito de comunidade. E óbvio, como veremos, não é qualquer tipo de comunidade.

Hoje vivemos em uma sociedade que Zygmunt Bauman cunhou de modernidade líquida:

  1. Relações pessoais são frágeis e efêmeras;

  2. Relações de trabalho são cada vez mais temporárias, onde flexibilidade é super valorizada (vide o debate acalorado entre trabalho presencial e remoto);

  3. Cultura do consumo que nos leva a tratar bens como descartáveis; e

  4. Identidades pessoais e coletivas maleáveis.

Por conta dessa "liquefação da modernidade", a responsabilidade individual está em seu "all time high", o que invariavelmente gera uma insegurança e ansiedade que faz o indivíduo querer voltar para uma comunidade, um certo porto seguro.

Como escreveu Eric Hobsbawm:

"Homens e mulheres procuram grupos de que possam fazer parte, com certeza e para sempre, num mundo em que tudo o mais se desloca e muda, em que nada mais é certo."

O que isso tem a ver com longevidade?

Tudo! Muitos estudos já mostraram como fortes conexões sociais ajudam a reduzir o stress e os riscos relacionados à solidão. Não precisamos ir muito longe, todos sabemos como é bom encontrar velhos amigos e confraternizar. Voltamos com as baterias recarregas.

Quem leu o livro Outliers de Malcolm Gladwell, viu na introdução a história da pequena cidade de Roseto, na Pensilvânia, que foi fundada por imigrantes italianos e, comparada com vilas que estavam ao lado, tinha um perfil de saúde da população completamente diferente das outras. Os problemas cardiovasculares comuns da região não afetavam essa pequena população.

O que se pensou inicialmente foi que a alimentação, exercício físico ou genética podiam ser a razão, mas não, eles não eram adeptos da famosa dieta mediterrânea e nem tinham grandes hábitos de exercício ou genes muito diferentes.

O que fez eles viverem muito mais sem doenças (healthspan) foi um senso forte de comunidade:

  1. As pessoas paravam para interagir umas com as outras nas ruas;

  2. As pessoas iam cozinhar na casa uma das outras;

  3. Uma interação forte entre gerações, com um respeito grande aos avós;

  4. Uma igreja forte com efeito unificador e calmante;

  5. Espírito igualitário que desestimulava ricos a ostentar e sim ajudar os necessitados.

Como escreveu o Malcolm:

"Ao transplantarem a cultura paesani do sul da Itália para os montes do leste da Pensilvânia, aquelas pessoas criaram uma estrutura social altamente protetora que era capaz de isolá-las das pressões do mundo moderno. Elas eram saudáveis por causa do lugar onde viviam, do mundo que haviam criado para si mesmas em sua minúscula cidade nas montanhas."

E na vida real?

Fica “meio impraticável criar uma cidade pequena hoje em dia, mas podemos aprender com isso e buscar construir “meta-comunidades”. Que não apenas geram em partes o senso de comunidade que a Roseto tinha, mas também incentivem hábitos saudáveis que são os outros pilares da longevidade.

O primeiro e mais importante núcleo social é uma família forte e depois grupos de amigos, que ou são da infância ou que fomos criando ao longo da vida.

Seja em uma assessoria esportiva, um clube, condomínio, bairro, igreja, você conscientemente decidir participar de uma comunidade e incentivar as características e hábitos certos, você certamente estará optando por viver muito melhor e mais feliz, por mais tempo.

SUPLEMENTO

Magnésio L-Treonato para sono e cognição

Foto por Olly na Pexels

Já escrevi sobre a importância do sono mais vezes do que consigo contar. Porque, no fim das contas, seu dia só será tão bom quanto a qualidade do seu sono na noite anterior.

Recentemente, escrevi sobre os efeitos da L-Teanina para melhorar o sono, mas hoje o foco é outro suplemento que continua ganhando atenção da ciência: o Magnésio L-Treonato (MgT). Um novo estudo confirmou seus efeitos positivos no sono, na energia, no humor e na clareza mental. Vamos aos detalhes.

O estudo

Um estudo randomizado e controlado analisou os efeitos do MgT em adultos com queixas de sono. Durante 3 semanas, 76 participantes tomaram 1g de MgT ou um placebo, sempre 2 horas antes de dormir. Os pesquisadores usaram questionários padronizados e dados do Oura Ring para medir os efeitos da suplementação.

Resultados principais:

  1. O grupo que tomou MgT relatou melhora na qualidade do sono, com redução na latência do sono (tempo para adormecer) e aumento da duração do sono profundo e REM.

  2. Os participantes também experimentaram melhora no humor, menor irritabilidade ao acordar e maior alerta mental.

  3. As medições do Oura Ring confirmaram os relatos subjetivos, mostrando melhor pontuação nos estágios do sono profundo e REM, além de maior atividade e prontidão durante o dia.

  4. Melhorias foram notadas a partir da segunda semana de suplementação.

Por que o MgT funciona tão bem?

O diferencial do Magnésio L-Treonato é sua capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica (lembra que comentamos dela por conta dos micro-nano plásticos?), diferente de outras formas de magnésio, e com isso aumentar os níveis de magnésio no cérebro. Isso permite efeitos diretos no cérebro, impactando sono, cognição e humor de forma mais eficaz do que outras formas de magnésio. Veja onde ele age:

  1. Regulação do GABA: Esse neurotransmissor inibitório ajuda a relaxar o cérebro, reduzindo a excitação excessiva que pode prejudicar o sono.

  2. Aumento da neuroplasticidade: Estudos sugerem que o MgT melhora a plasticidade sináptica, favorecendo o aprendizado, memória e adaptação ao estresse.

Como usar o MgT na prática?

Para melhorar o sono e a cognição com o MgT, as principais diretrizes são:

  1. Dosagem recomendada: Apesar do estudo ter usado 1g, vários especialistas sugerem começar com uma dosagem bem menor. Por exemplo, o Huberman sugere 145mg e o Peter Attia usa 144mg em seu protocolo.

  2. Combinação com outras formas de magnésio: O MgT pode ser utilizado isoladamente ou combinado com outras formas de magnésio, dependendo do objetivo. No meu caso, também uso o cloreto de magnésio para outro objetivo.

  3. Consistência é essencial: Os efeitos costumam aparecer a partir da segunda semana, então a regularidade é essencial.

  4. Apoie com bons hábitos de sono: Não se esqueça do Protocolo QQRT, que falamos na primeira edição dessa news, e bons hábitos para ajudar na qualidade geral do seu sono.

⚠️ Alerta

O magnésio L-treonato é geralmente bem tolerado, mas pode causar desconforto digestivo leve em algumas pessoas, dependendo da dose, e interagir com certos medicamentos. Sempre consulte um profissional de saúde antes de iniciar a suplementação.

NUTRIÇÃO

O jejum: Além da ciência

Nutrição é um tema complexo e cheio de controvérsias, principalmente pela dificuldade de conduzir estudos científicos que possam nos afirmar, com precisão, um caminho correto.

Quando falamos sobre longevidade, esse desafio se intensifica. Afinal, é praticamente impossível fazer com que um grupo de pessoas siga um determinado padrão alimentar por décadas para comprovar seus efeitos.

Por isso, muitas pesquisas buscam respostas em modelos alternativos, analisando padrões alimentares influenciados por culturas, religiões e hábitos históricos. Nesse contexto, o jejum tem sido um dos temas mais estudados e debatidos na ciência da longevidade.

Mas o que a ciência realmente diz? O jejum é benéfico apenas porque reduz a ingestão calórica, ou há outros mecanismos envolvidos? Antes de responder, precisamos separar essas duas abordagens distintas:

  • Jejum como ferramenta de restrição calórica, auxiliando no controle de peso e metabolismo.

  • Jejum como ferramenta para melhorar biomarcadores de longevidade, independentemente da quantidade total de calorias ingeridas.

O que se sabe até agora?

A ideia de que comer menos pode prolongar a vida é antiga, mas ganhou embasamento científico robusto nas últimas décadas. Estudos com diferentes espécies, de leveduras a primatas, demonstram que reduzir a ingestão calórica pode aumentar a longevidade e retardar o aparecimento de doenças.

A restrição calórica sem desnutrição (em inglês, CR) é um método amplamente estudado. Em seu livro o Peter Attia menciona que pesquisas desde a década de 1930 mostram de forma consistente que camundongos submetidos à CR podem viver de 15% a 45% mais do que aqueles que comem à vontade, dependendo da idade de início e do grau de restrição.

Mas um detalhe importante chamou atenção: muitos desses experimentos envolvem não apenas a redução de calorias, mas também a restrição do período de alimentação — ou seja, os animais acabam involuntariamente praticando um tipo de jejum.

Isso levanta a questão: os benefícios vêm da menor ingestão calórica ou do intervalo sem comer?

Um estudo recente, conduzido pelo pesquisador Joe Takahashi e mencionado por Satchin Panda, tentou responder essa pergunta. Ele comparou três grupos de camundongos:

  1. Comiam à vontade o dia todo (sem restrição calórica).

  2. Tinham restrição calórica, mas comiam pequenas a cada 90 minutos.

  3. Tinham restrição calórica, mas comiam todas as calorias dentro de um intervalo de 12 horas durante o horário que eles naturalmente comem (de noite).

Os camundongos do segundo grupo (restrição calórica sem jejum) viveram 10% mais do que os do primeiro grupo. Já os do terceiro grupo (restrição calórica + janela de alimentação) viveram 35% mais.

O que significa? Nada de novo! Pois vamos parar para pensar, quem é que come o tempo todo, mesmo durante o sono? Normalmente comemos dentro de uma janela de 12-14 horas. 

A questão mais interessante é: e se, ao invés de comer em 12 horas, os camundongos comessem todas as calorias dentro de uma janela de apenas 2 horas? Aqui entra um outro dado curioso. De acordo com um estudo mencionado por Satchin Panda, não houve diferença significativa entre uma janela de 12 horas e uma de 2 horas. Ou seja, reduzir ainda mais o tempo de alimentação dentro do dia não trouxe benefícios adicionais claros.

Biomarcadores

O que é o mais intrigante é que o Dr. Satchin comenta, que ao comparar os grupos 2 e 3 utilizando biomarcadores clássicos de longevidade, os pesquisadores não conseguiram prever que o grupo 3 teria uma vida mais longa. Ou seja, ainda precisamos identificar novos biomarcadores mais sensíveis para avaliar os reais impactos do jejum na extensão da vida.

O que podemos aprender com tudo isso

Apesar de não estar claro cientificamente que apenas o jejum (excluindo da conta a questão de redução calórica) tem um benefício claro, ele pode ser uma grande ferramenta para ajudar a reduzir o consumo de calorias. O que tem grandes benefícios.

Por quê? Pelo mesmo motivo que a Ramamicina tem um efeito em nossa longevidade. Comer menos também ativa a enzima AMPK, que estimula a biossíntese de mitocôndrias e inibe o mTOR (lembra do nosso artigo sobre isso?). Essa inibição desencadeia a autofagia, um processo essencial para reciclagem celular, removendo componentes danificados e melhorando a função das células ao longo do tempo. 

Mas há algo além da biologia. 

A ciência ainda não tem todas as respostas sobre o impacto do jejum e talvez nunca tenha, mas essa é uma prática milenar central em diversas culturas e religiões, principalmente nas tradições abraâmicas. Nessas tradições, o jejum não era apenas um período diário de pausa alimentar como é o jejum intermitente tradicional, mas sim um período de abdicação e reflexão, no qual a atenção se voltava menos ao corpo.

Seja pela ciência ou pela espiritualidade, me parece que momentos específicos de abdicação sempre tiveram e terão um papel essencial na vida humana.

P.S

Este artigo foi escrito ao longo de uma semana e estava pronto desde o final de semana passado. Nesse meio tempo, Rich Roll compartilhou a segunda conversa que teve com o Dr. Valter Longo, que é um dos especialistas em jejum e longevidade. Ainda não analisei, mas fica a dica caso alguém queira assistir.

NOTÍCIAS DA SEMANA

O que mais está acontecendo?

💡 A Healthspan Capital lançou o LongBio Report 2025, um relatório sobre o setor de longevidade. O estudo analisa 46 startups inovadoras, categorizadas por tecnologia, e destaca o potencial do mercado, que pode atingir trilhões de dólares nos próximos anos. 

💡 A Epicore Biosystems levantou US$ 26M em rodada Série B para expandir seus wearables de monitoramento do suor e sua plataforma de análise na nuvem. A startup ampliará biomarcadores para hidratação, saúde renal, saúde da mulher e exposição a toxinas ambientais.

💡 Pesquisadores testam senolíticos e uma possível vacina contra o envelhecimento 🤯 . O estudo avalia se remover células senescentes pode reverter doenças crônicas. No Japão, cientistas desenvolveram uma vacina que ensina o sistema imunológico a eliminá-las. Estudos em ratos mostraram aumento da longevidade.

💡 As startups de nutrição Berry Street e Fay levantaram US$ 50M cada em novas rodadas de investimento. O boom dos GLP-1s impulsiona o crescimento dessas plataformas, que conectam pacientes a nutricionistas.

💡 A Qu Biologics anunciou que seu imunomodulador QBECO reduziu marcadores de senescência no fígado em modelos de obesidade. O estudo sugere que a modulação imunológica pode ter um papel no combate ao envelhecimento e doenças crônicas.

💡 A Washington University School of Medicine iniciou um ensaio clínico com jovens de 18 anos + para prevenir o Alzheimer antes dos sintomas. O estudo testa um anticorpo monoclonal da Eli Lilly para impedir a formação de placas beta-amiloides e interromper a doença na origem.

VALE SABER

“Para mim, correr é tanto um exercício como uma metáfora. Correndo dia após dia, colecionando corridas, pouco a pouco elevo meu patamar, e cumprindo cada nível aprimoro a mim mesmo. Pelo menos é nisso que deposito meu empenho dia após dia: elevar meu próprio nível. Não sou um grande corredor, de modo algum. Estou mais para um nível comum - ou, antes, mediano. Mas isso não vem ao caso. A questão é se melhorei ou não em relação ao dia anterior. Em corridas de longas distâncias, o único oponente que você tem de derrotar é você mesmo, o modo como você costumava ser.”

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